O governo está certo ao jogar peso no encaminhamento das concessões e em manter um diálogo estreito com a iniciativa privada.
Só que se mostra um tanto desarticulado, pois não há comando único e com autonomia abaixo da presidente, com tantos assuntos urgentes para se preocupar.
O principal interlocutor é o ministro dos Transportes, da Fazenda, da Casa Civil ou é o secretário do Tesouro?
Além disso, na base de tudo a máquina se deteriorou muito ao longo da fase de derrocada dos investimentos em infraestrutura. E a EPL, nova empresa pública a cargo do planejamento, está no momento alijada, pois em ano eleitoral tudo é para ontem.
A ANTT, agência reguladora, ficou sem papel claro no processo, com tantas interferências e interlocutores. Até hoje tem a diretoria incompleta, pois o governo não consegue mobilizar o Senado para escolher novos dirigentes.
Na verdade, o governo atira para vários lados ao mesmo tempo. Diz que vai fazer e acontecer, faz propaganda, anuncia planos, mas na prática hesita. Primeiro porque insiste na obtenção das menores tarifas imagináveis, quando deveria perseguir as possíveis. Nisso, estimula a vinda de oportunistas.
Depois, dada a pressa eleitoral, queima etapas insubstituíveis, como a apresentação de planos de negócios, atualmente proibidos.
Ora, e se o BNDES, financiador-mor das concessões, que mantém a exigência de análise dos planos para examinar as propostas de financiamento, concluir que os negócios não são sustentáveis?
O filme do Brasil foi queimado pelas manobras contábeis que esconderam a piora fiscal e pelo abandono do tripé macroeconômico.
Num mundo em crescente desconfiança com os mercados emergentes, concessões bem conduzidas poderiam salvar a pátria ao facilitar a retomada do crescimento.
Seria uma boa hora para reorganizar tudo e reconhecer o primado da economia de mercado na condução dos negócios da infraestrutura de transportes.
Fonte: Folha Online