A crise de dólares ‘à la Argentina’ que leva a disparada de preços na Bolívia

Apesar de ser um dos países mais pobres da América do Sul, a Bolívia conseguiu controlar a alta dos preços dos alimentos mediante políticas públicas implantadas nos últimos 15 anos que visavam abastecer o mercado interno e romper com o ciclo inflacionário que atinge diversos países da América Latina.

Agora, contudo, o alto déficit na balança comercial, semelhante ao que a Argentina passa há anos, faz com que o país atravesse uma crise que torna escasso os dólares na economia boliviana.

Isso impacta a inflação, cujo índice anual chegou a 5,5% em setembro — patamar elevado para os padrões bolivianos e que já desperta irritação na população local, em meio a disputas políticas no governo.

Este foi o maior nível desde 2013, quando a inflação teve um pico de 6,48% no acumulado anual.

Desde 2015, a Bolívia acumula seguidos déficits fiscais. A situação, contudo, piorou desde 2023, com a queda do volume de gás vendido para fora do país. Esse é o principal item de exportação do país.

Por isso, desde o ano passado, o país precisou recorrer às reservas internacionais para subsidiar o preço dos combustíveis, que é importado.

Os subsídios, que vão dos alimentos às empresas que importam diesel e gasolina, e custam cerca de US$ 4 bilhões por ano, passaram a pesar na conta — com o governo gastando mais do que arrecada.

“Trata-se de déficits fiscais de uma média de 8% do PIB [Produto Interno Bruto], uma queda nas receitas fiscais e, obviamente, nas reservas do Banco Central, que foram queimadas e se tornaram um dos mais importantes financiadores do governo”, afirma o economista Jaime Dunn De Avila, mestre em administração de empresas pela Universidade Católica Boliviana.

Tentando manter seu programa social e econômico, o governo de Luis Arce passou a utilizar as reservas oficiais de dólar. Com isso, houve baixa das reservas, que passaram de US$ 15 bilhões em 2015 para US$ 1,9 bilhão agora.

Desde o ano passado, o governo também restringiu saques na moeda estrangeira e compras no cartão de crédito, buscando segurar mais divisas em solo boliviano.

Mesmo assim, com as reservas baixas, o país não consegue mais controlar a variação da moeda americana, que disparou no mercado paralelo.

“As reservas internacionais bolivianas se reduziram para algo próximo ao nível do colapso”, completa o economista.

“Ficou mais difícil para o país importar até produtos essenciais, como alimentos e remédios, com a consequente falta de mercadorias e aumento de preços.”

‘Os preços sobem muito e o nosso salário é muito baixo’, diz Maria de Lourdes, que vende produtos alimentícios nas ruas de La Paz

A população sofre com a escassez de combustíveis, principalmente do diesel. Há também filas para conseguir alimentos básicos subsidiados, como arroz e farelo de trigo.

Além disso, tensões políticas entre Luís Arce e o ex-presidente Evo Morales, ex-aliados que disputam o controle do partido no Movimento ao Socialismo (MAS) e a possibilidade de disputar as eleições no ano que vem, afastaram investidores estrangeiros.

Pelas ruas de La Paz, comerciantes buscam dólares e anunciam a compra da moeda americana.

“Preciso de dólares para importar mercadorias e, também, porque não confio mais no governo”, diz o comerciante José Ignacio.

“Por isso, para me proteger, vou guardar dólares por aqui antes que os preços disparem como na Argentina.”

Alex Nery, professor de economia da FIA Business School, explica que a escassez de reservas cambiais, que agora ocorre na Bolívia, permanece como um dos grandes desafios da economia argentina.

“A falta de reservas dificulta a defesa da taxa de câmbio em momentos de crise e aumenta a desconfiança dos agentes de mercado internos e externos em relação à moeda local”, diz Nery.

“[Na Argentina] a desvalorização do peso tem impacto direto na inflação, pois aumenta os custos de insumos importados e eleva os preços de bens de consumo, especialmente em uma economia que depende de importações”, completa.

Inflação em alta

Preços de alimentos básicos são tabelados pelo governo

Os desajustes macroeconômicos já se refletem na vida da população da Bolívia.

A Bolívia historicamente tem uma inflação mais baixa do que outros países da América Latina, onde a alta dos preços é um problema frequente.

Nos últimos quatro anos, de 2020 a 2023, o país teve uma alta acumulada de 6% no índice oficial de preços. No Brasil, o aumento foi de cerca de 25% no mesmo período.

Maria de Lourdes, que vende produtos alimentícios nas ruas da capital boliviana, reclama da alta dos preços durante o governo de Luis Arce.

Por isso, ela toma lado na disputa política no MAS e afirma que apenas o retorno de Evo Morales ao poder poderia fazer com que o país retome o caminho do crescimento e o controle dos preços.

“Os preços sobem muito, e o nosso salário é muito baixo. Espero que Evo volte, para que nossa vida volte a melhorar como na época dele”, diz.

Para Alexis Dantas, professor de ciências econômicas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o país poderia optar por iniciar um controle cambial mais rígido para conter a alta da moeda e seus efeitos negativos.

“O mais razoável, para o país, seria o controle cambial, à medida que os exportadores não podem fazer outra coisa se não exportar, sobretudo na questão mineral, e assim você consegue controlar o curto prazo e pode relaxar essas medidas ao longo do tempo”, diz.

“Mas há uma pressão forte do sistema financeiro”, reconhece.

Já para Jaime Dunn De Ávila, o problema é justamente o excesso de controle sobre a economia do país.

“A crise cambial na Bolívia é, na verdade, resultado de um problema real, que começou a ser criado aos poucos desde 2014, quando as receitas das exportações de gás para a Argentina e o Brasil significaram mais de US$ 5 bilhões para o governo boliviano”, diz.

“Mas isso acabou, e o governo manteve as despesas crescentes, enquanto as receitas diminuíram, o que nos conduz claramente a uma crise.”

O presidente Luis Arce admite a crise de dólares, mas vem negando o impacto econômico na vida cotidiana do boliviano.

“Como vários países, temos certas dificuldades na disponibilidade do dólar, mas não estamos numa crise econômica estrutural como a oposição pretende posicionar-se para gerar uma crise política e encurtar o nosso mandato”, disse Arce durante discurso neste ano.

O ministro da Economia e Finanças, Marcelo Montenegro, afirmou à rede France 24 que “haverá um aumento de divisas” na economia com as exportações agrícolas que foram atrasadas devido aos problemas climáticos.

Plano de alimentação

Bolivianos fazem fila em frente a unidade da Emapa na cidade de Copacabana, na fronteira com o Peru

Parte do sucesso de um período não muito distante no controle de preços e no abastecimento do mercado interno veio com a fundação da Empresa de Apoio à Produção Alimentar (Emapa) e do Fundo Rotativo de Segurança Alimentar.

Essas entidades importam alimentos usando recursos públicos e fomentam o pequeno produtor que não cultiva commodities para exportação. Depois, fazem a distribuição desses itens em mercados estatais, para manter os preços.

A Emapa, criada em agosto de 2007, é um órgão estatal que tem por objetivo assegurar a “segurança alimentar com soberania”.

Na prática, a empresa compra de produtores locais, mantendo um nível de demanda constante, o que fomenta a produção de alimentos não voltados à exportação, como a soja, e vende em supermercados próprios, com preços subsidiados aos moradores.

“O ex-presidente Evo Morales e o atual, Luis Arce, combinaram uma série de medidas que mesclaram liberalismo e desenvolvimentismo, como zerar tarifas para a importação de alguns tipos de alimentos e criar uma empresa pública, a Emapa”, diz Maurício Santoro, doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iuperj).

“Essas decisões foram tomadas no contexto de um pico inflacionário de alimentos e de muitos conflitos sociais e políticos na Bolívia, no fim da década de 2000.”

Turistas são autorizados a comprar nesses supermercados, que restringem apenas os produtos básicos e subsidiados pelo governo, como o arroz e farelo de trigo.

“Os turistas vêm sempre aqui dar uma olhada e comprar produtos. Alguns se interessam pelos baixos preços, mas sempre explico que somente pessoas cadastradas podem comprar alguns itens”, afirma à BBC News Brasil Carla Santí, que trabalha como caixa na unidade localizada na cidade boliviana de Copacabana, próximo da fronteira com o Peru.

Além da Emapa, há ainda o Fundo Rotativo de Segurança Alimentar, que importa alimentos usando para isso recursos públicos e distribui nesses mercados para manter os preços baixos.

Logo após a pandemia, por exemplo, a BBC News Brasil reportou que o fundo injetou 10 mil toneladas de farinha de trigo no mercado para evitar o aumento do preço do pão.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tentou fazer algo parecido com o arroz à época das inundações no Rio Grande do Sul, mas não conseguiu por problemas em leilões para comprar arroz de produtores internacionais.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo não faria outros certames dado que o preço do arroz já estava de volta aos patamares anteriores à tragédia climática.

Outro pilar importante dentro do controle da inflação dos alimentos na Bolívia é o preço dos combustíveis, responsáveis pelo transporte da produção à mesa do consumidor.

Por lá, o abastecimento é considerado como serviço público e o Estado mantém o controle da produção, subsidiando os preços à população local.

As medidas fazem efeito. Se entre 2010 e 2015, o preço dos alimentos subiu cerca de 55%, nos últimos cinco anos a alta foi de somente 10% no acumulado, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística da Bolívia (INE) — mesmo com a pandemia de covid-19, que fez com que os preços dos alimentos subissem no mundo.

O controle de preços praticado pelo governo boliviano, contudo, se difere do congelamento de preços praticados no Brasil durante o governo de José Sarney, ou pelo governo argentino em diversos períodos da história.

Segundo explica Alex Nery, essas experiências anteriores no Brasil e na Argentina impuseram um teto para os preços de alguns bens e serviços — somente isso, sem uma abordagem mais complexa.

“Este método tenta conter a inflação diretamente, mas tem se mostrado ineficaz ao longo da história porque ele não combate a causa da inflação, mas apenas uma de suas consequências, que é o aumento generalizado nos preços”, diz o professor da FIA Business School.

“Quando adotado, frequentemente provoca escassez de oferta, na medida em que desestimula a produção ou importação dos bens cujos preços foram congelados ao reduzir a rentabilidade dos produtores.”

Nery afirma que a prática boliviana recente é diferente, pois vem acompanhada de políticas para aumentar a oferta dos itens no mercado e para manter a competição.

Ele cita o Fundo Rotativo de Segurança Alimentar.

“Há exemplo do uso desse fundo para importar toneladas de farinha de trigo com o objetivo de manter estável o preço do pão. A diferença entre as duas situações é que, no caso do Brasil [no governo Sarney], trata-se de uma medida pontual para tratar de uma crise de abastecimento momentânea, enquanto no caso da Bolívia há uma política permanente que objetiva combater a inflação”, afirma.

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Atlético: Pai de Hulk reage à demissão do técnico Gabriel Milito no Instagram

O Atlético anunciou a demissão do técnico Gabriel Milito após a derrota por 2 a 0 para o Vasco, na noite desta quarta-feira (4), pelo Campeonato Brasileiro. A decisão, comunicada logo após a partida, gerou reações, inclusive de pessoas próximas ao elenco.

O pai do atacante Hulk, Gilvan Vieira de Sousa, celebrou a saída do treinador nas redes sociais. Ele comentou um post do perfil “Fala Massa”, que informava sobre a demissão, utilizando emojis de palmas e preces.

De acordo com o diretor de futebol do clube, a saída de Milito aconteceu após um diálogo entre as partes. Segundo ele, técnico e diretoria chegaram a um consenso sobre o encerramento do vínculo.

Milito enfrentava forte pressão. Apesar de ter levado o Atlético às finais da Copa do Brasil e da Libertadores, perdeu ambas as decisões — incluindo a final contra o Botafogo, em que teve um jogador a mais durante todo o jogo. No Brasileirão, o clube ainda luta para evitar o rebaixamento, dependendo de uma combinação de resultados.

Números e substitutos especulados

Milito encerra sua passagem pelo Atlético com 62 jogos, acumulando 23 vitórias, 20 empates e 19 derrotas em nove meses.

Nos bastidores, alguns nomes já ganham força como possíveis substitutos. Assim, Luís Castro (ex-Botafogo), Tite (ex-Flamengo, Corinthians e Seleção Brasileira) e Cuca estão mais fortes nos bastidores.

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Insolvência: o termo que reflete momento financeiro dos Correios

Os Correios registraram, de janeiro a setembro de 2024, o maior prejuízo de sua história para o período: R$ 2 bilhões. A estatal está prestes a superar o pior desempenho anual já registrado, de R$ 2,1 bilhões, ocorrido em 2015, durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Sob a gestão de Fabiano Silva dos Santos, advogado de 47 anos e indicado pelo grupo Prerrogativas — conhecido por sua proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —, os Correios enfrentam uma grave crise que ameaça a sustentabilidade financeira.

Fabiano, apelidado de “churrasqueiro de Lula” devido à relação próxima com o presidente, tem adotado medidas para tentar conter o colapso. Entre elas está a implementação de um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões, que resultou no encerramento de contratos e na suspensão de novas contratações de terceirizados. Apesar dessas ações, a projeção revisada para as receitas em 2024 caiu de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões, insuficiente para evitar um prejuízo estimado de pelo menos R$ 1,7 bilhão.

Em documento interno, os Correios destacaram que as ações em curso têm como objetivo estancar a situação de insolvência da empresa, ou seja, garantir o equilíbrio econômico-financeiro e evitar um colapso total. Mesmo assim, a situação é agravada por fatores como o impacto de decisões anteriores, incluindo a desistência de ações trabalhistas que somam cerca de R$ 1 bilhão e a chamada “taxa das blusinhas” — uma política de taxação de compras internacionais abaixo de US$ 50, implementada no governo Lula, que teria reduzido a receita da estatal em outro R$ 1 bilhão.

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Além disso, os Correios enfrentam um histórico de “sucateamento”, conforme apontado pela gestão atual, que atribui parte dos problemas às políticas do governo anterior. Por outro lado, especialistas apontam que a administração de Fabiano Silva dos Santos também contribuiu para o agravamento da situação orçamentária, com decisões estratégicas que ainda não mostraram resultados concretos na recuperação da estatal.

Insolvência é o termo utilizado para descrever a incapacidade de uma empresa ou indivíduo de honrar compromissos financeiros. Quando uma organização entra nesse estado, ela não consegue gerar receita suficiente para cobrir despesas e dívidas, colocando em risco a operação. É basicamente quando as dívidas do devedor são maiores do que o patrimônio.

Outro exemplo é a Telebras, que acumula dívidas de R$ 200,7 milhões e foi incluída em órgãos de proteção ao crédito por dificuldades em honrar seus compromissos. Ambas as empresas foram retiradas dos planos de privatização pelo governo Lula, uma decisão que, segundo analistas, aumentou a pressão para que a gestão atual demonstre resultados que justifiquem a manutenção do controle estatal.

Com as contas no vermelho e sem uma solução clara à vista, os Correios enfrentam um futuro incerto.

* Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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Serasa: Feirão Limpa Nome disponibiliza telefone gratuito para negociação de dívidas

Para facilitar a vida do consumidor que busca limpar o nome, a Serasa começou a disponibilizar um telefone gratuito exclusivo para facilitar a negociação de dívidas. Com isso, consumidores de todas as regiões do país podem entrar em contato com atendentes da própria empresa, treinados para tirar dúvidas e auxiliar no processo completo de negociação. A ação “Alô, Serasa” tem início na segunda-feira (25/11) e se estende até sexta-feira (29) pelo número 0800 591 5161.

O atendimento será realizado por atendentes treinados e pelos próprios funcionários especialistas da Serasa, que estarão dedicados a ouvir o consumidor das 8h às 20h. Pelo telefone, é possível ter acesso às ofertas e a condições de pagamento disponibilizadas pelas mais de 1 mil empresas parceiras, entre bancos, varejistas, telecomunicações, securitizadoras e concessionárias de contas básicas.

Segundo Daniel Nure, coordenador de Consumer Care da Serasa, a experiência por voz visa proporcionar a negociação a milhares de brasileiros que não conseguem ou não podem se dirigir às agências dos Correios, ou não se sentem confortáveis em fazer as mesmas negociações pelos canais digitais oficiais. “Funciona como mais um canal para ampliar as facilidades e oferecer as soluções para quem deseja retomar a vida financeira neste final de ano”, afirmou.

Ainda segundo a Serasa, os consumidores terão os mesmos benefícios do Feirão, chegando a 99% de descontos. Os débitos pagos com Pix, por exemplo, vão permitir que o nome fique limpo na hora, saindo do endividamento. O consumidor também poderá reunir todos os boletos num só pagamento.

Outro ponto que vale destacar é que contas atrasadas de água e luz podem ser pagas de forma parcelada por telefone.

A Serasa alerta para cuidados com golpes e fraudes, envolvendo números suspeitos de telefone. “O canal 0800 591 5161 apenas recebe chamadas dos consumidores. Se um número diferente ou similar entrar em contato alegando ser um atendente Serasa, esse não é um atendente oficial”, assegura Nure.

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13° salário: como empreendedores podem se organizar para ter o dinheiro extra no fim de ano

O 13° salário é um direito assegurado pela legislação brasileira para os trabalhadores CLT, que recebem todo fim de ano um salário inteiro a mais. Esse dinheiro pode fazer muita diferença nas finanças, pensando em todas as tradicionais contas de começo de ano, além dos presentes na época de festas.

No entanto, outro grupo importante de trabalhadores no Brasil não tem direito ao recebimento: os empreendedores.

O país, até 2022, tinha 14,6 milhões só de microempreendedores individuais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Olhando para um quadro mais geral, eram 42 milhões de empreendedores até aquele ano, de acordo com pesquisa do Sebrae e da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).

Para esses milhões de pessoas, o recebimento do 13° salário depende da própria organização financeira — para que seja possível, com o rendimento que entra a cada mês, reservar uma parte para compor esse salário extra no fim do ano.

Mila Gaudencio, educadora financeira e consultora do will bank, explica que, embora possa parecer uma missão desafiadora, é possível que empreendedores tenham seu 13° salário. Para isso, a melhor alternativa é que juntar esse valor seja um objetivo que comece ainda nos primeiros meses do ano e seja trabalhado em pequenas metas.

A especialista falou sobre como os empreendedores podem se organizar para ter um 13° salário no segundo episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.

Veja a íntegra da entrevista abaixo:

Você vai ver nesta reportagem:

Como um empreendedor pode ter um 13° salário no fim do ano

Para os empreendedores, autônomos ou outros profissionais que não têm o direito ao 13° salário por lei, a preparação para ter esse dinheiro extra entre novembro e dezembro deve começar ainda no início do ano.

O primeiro passo é separar a pessoa física da pessoa jurídica, e delimitar o que é dinheiro da empresa e o que é dinheiro do profissional. Para isso, o empreendedor precisa, com base nos cálculos individuais de cada negócio, definir qual será seu salário — o pró-labore — e deixar o restante do faturamento para pagar as contas da empresa e formar caixa.

O 13° salário ideal é o valor do rendimento do profissional no ano dividido por 12. Dessa forma, o empreendedor pode pegar um pouco do seu pró-labore mensal e poupar ao longo do ano, para que em dezembro tenha o 13°.

No entanto, a educadora financeira ressalta que, principalmente para os empreendedores iniciantes, pode ser difícil juntar o valor equivalente a um 13° completo

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

Mesmo assim, vale reservar um pouco por mês, por menor que seja o valor, para que o empreendedor tenha pelo menos uma parte desse 13° para ajudar com as contas da pessoa física no começo do ano, aconselha Mila.

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Como surgiu o 13° salário e a importância de enxergá-lo como um direito

O 13° salário — ou “gratificação de Natal” — surgiu em 13 de julho de 1962, no governo de João Goulart, oficializado pela lei nº 4.090. A medida foi uma resposta a uma série de protestos e greve dos trabalhadores, em um momento em que a inflação elevada corroía o poder de compra da população.

Esse benefício trazido pelas leis trabalhistas não nasceu sem reclamações: empresários e especialistas da área econômica da época diziam, inclusive, que a obrigatoriedade do empregador de pagar um 13° salário poderia quebrar o país.

No entanto, não aconteceu. E, mais que isso, injeta bilhões na economia todos os anos. Em 2024, por exemplo, a expectativa é que o pagamento do 13° salário coloque mais de R$ 320 bilhões na economia brasileira.

E entender os motivos para o surgimento deste benefício, segundo Mila Gaudencio, pode ajudar o trabalhador a ter mais consciência sobre o dinheiro que entra na conta.

A conta é simples, explica a educadora financeira:

Um ano tem 52 semanas;

Ao dividir essas 52 por 4 — que é a média de semanas contadas por mês —, o resultado é 13;

Assim, o 13° compensa essas quatro semanas restantes que formam o “13° mês”.

Esse dinheiro, segundo Mila, serve para aqueles meses que têm mais dias úteis e podem gerar um desequilíbrio nas contas, já que os gastos com transportes e alimentação no trabalho, por exemplo, podem ser maiores.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

Para a educadora financeira, enxergar esse dinheiro como um direito e não um bônus faz diferença no comportamento financeiro. “Quando a gente sabe que demandou um esforço para conquistar esse dinheiro, a gente acaba tendo uma disciplina maior do que se fosse simplesmente um dinheiro ganhado”.

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Como analisar o melhor destino para o 13° salário

Mila Gaudencio afirma que a forma de gastar o 13° salário deve ser decidida com base em uma análise pessoal, entendendo qual a realidade em que se vive. No entanto, há alguns pontos que devem ser levados em consideração para que essa decisão seja o mais acertada possível.

1⃣ Avaliação das dívidas

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, a CNC, até setembro de 2024, apesar de uma queda no número de endividados, o número de pessoas que se declaram endividadas no Brasil ainda era de 77,2%.

E embora o alto endividamento seja uma realidade brasileira, as dívidas podem gerar uma série de efeitos negativos na saúde mental de quem as contrai. Assim, se há dívidas importantes, de valores elevados e que pesem no orçamento, Mila pontua que priorizar pagá-las é uma boa opção.

Se as parcelas da dívida comprometem uma fatia importante do orçamento mensal, vale a pena usar o dinheiro do 13° salário para quitar os débitos totalmente ou, pelo menos, diminui-los.

A educadora financeira ainda alerta que vale procurar o banco para tentar negociar um desconto para a quitação do valor ou, se não for possível pagar tudo de uma vez, buscar alternativas para reduzir o valor das parcelas restantes — seja amortizando uma parte e/ou fazendo uma portabilidade das dívidas.

2⃣ Se não há dívidas, vale pensar nas contas que se aproximam.

“A pessoa tem que olhar para a realidade dela e olhar como um todo. Depois de dezembro, vem janeiro. E vem janeiro com outras despesas”, diz ela.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

Tradicionalmente, todo começo de ano chegam algumas contas que podem pesar sobre as finanças, como IPTU, IPVA, materiais escolares e férias, por exemplo.

Quem deixa para pensar nessas despesas só quando elas chegam, porém, pode começar o ano já se enrolando financeiramente, ao precisar parcelas as contas — contraindo novas dívidas.

Então, o conselho da educadora financeira é que aqueles que não têm uma reserva, ou pelo menos uma folga no orçamento, guardar o valor do 13° para arcar com essas despesas é uma boa escolha, capaz de trazer a desejada “paz de espírito” nos meses seguintes.

3⃣ Depois de analisar as contas passadas, presentes e futuras, tudo bem destinar uma parte do dinheiro para se presentear.

Mila considera que é “saudável que a pessoa que não tem dívidas e está com as contas em dia compre um presente para si”. Isso porque o dinheiro, para além de pagar contas, tem o propósito de proporcionar boas experiências para o trabalhador.

Porém, mesmo sem dívidas, a especialista alerta que é importante definir limites para os gastos — ainda mais no fim do ano, uma época que é “convidativa para os gastos”.

Se o valor do 13° salário for usado para comprar presentes (para a própria pessoa ou para outros), vale a pena decidir, antes mesmo de sair de casa, qual é o teto de gastos, ou seja, qual o valor máximo que será gasto com as compras.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

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13° salário: como empreendedores podem se organizar para ter o dinheiro extra no fim de ano

O 13° salário é um direito assegurado pela legislação brasileira para os trabalhadores CLT, que recebem todo fim de ano um salário inteiro a mais. Esse dinheiro pode fazer muita diferença nas finanças, pensando em todas as tradicionais contas de começo de ano, além dos presentes na época de festas.

No entanto, outro grupo importante de trabalhadores no Brasil não tem direito ao recebimento: os empreendedores.

O país, até 2022, tinha 14,6 milhões só de microempreendedores individuais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Olhando para um quadro mais geral, eram 42 milhões de empreendedores até aquele ano, de acordo com pesquisa do Sebrae e da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).

Para esses milhões de pessoas, o recebimento do 13° salário depende da própria organização financeira — para que seja possível, com o rendimento que entra a cada mês, reservar uma parte para compor esse salário extra no fim do ano.

Mila Gaudencio, educadora financeira e consultora do will bank, explica que, embora possa parecer uma missão desafiadora, é possível que empreendedores tenham seu 13° salário. Para isso, a melhor alternativa é que juntar esse valor seja um objetivo que comece ainda nos primeiros meses do ano e seja trabalhado em pequenas metas.

A especialista falou sobre como os empreendedores podem se organizar para ter um 13° salário no segundo episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.

Veja a íntegra da entrevista abaixo:

Você vai ver nesta reportagem:

Como um empreendedor pode ter um 13° salário no fim do ano

Para os empreendedores, autônomos ou outros profissionais que não têm o direito ao 13° salário por lei, a preparação para ter esse dinheiro extra entre novembro e dezembro deve começar ainda no início do ano.

O primeiro passo é separar a pessoa física da pessoa jurídica, e delimitar o que é dinheiro da empresa e o que é dinheiro do profissional. Para isso, o empreendedor precisa, com base nos cálculos individuais de cada negócio, definir qual será seu salário — o pró-labore — e deixar o restante do faturamento para pagar as contas da empresa e formar caixa.

O 13° salário ideal é o valor do rendimento do profissional no ano dividido por 12. Dessa forma, o empreendedor pode pegar um pouco do seu pró-labore mensal e poupar ao longo do ano, para que em dezembro tenha o 13°.

No entanto, a educadora financeira ressalta que, principalmente para os empreendedores iniciantes, pode ser difícil juntar o valor equivalente a um 13° completo

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

Mesmo assim, vale reservar um pouco por mês, por menor que seja o valor, para que o empreendedor tenha pelo menos uma parte desse 13° para ajudar com as contas da pessoa física no começo do ano, aconselha Mila.

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Como surgiu o 13° salário e a importância de enxergá-lo como um direito

O 13° salário — ou “gratificação de Natal” — surgiu em 13 de julho de 1962, no governo de João Goulart, oficializado pela lei nº 4.090. A medida foi uma resposta a uma série de protestos e greve dos trabalhadores, em um momento em que a inflação elevada corroía o poder de compra da população.

Esse benefício trazido pelas leis trabalhistas não nasceu sem reclamações: empresários e especialistas da área econômica da época diziam, inclusive, que a obrigatoriedade do empregador de pagar um 13° salário poderia quebrar o país.

No entanto, não aconteceu. E, mais que isso, injeta bilhões na economia todos os anos. Em 2024, por exemplo, a expectativa é que o pagamento do 13° salário coloque mais de R$ 320 bilhões na economia brasileira.

E entender os motivos para o surgimento deste benefício, segundo Mila Gaudencio, pode ajudar o trabalhador a ter mais consciência sobre o dinheiro que entra na conta.

A conta é simples, explica a educadora financeira:

Um ano tem 52 semanas;

Ao dividir essas 52 por 4 — que é a média de semanas contadas por mês —, o resultado é 13;

Assim, o 13° compensa essas quatro semanas restantes que formam o “13° mês”.

Esse dinheiro, segundo Mila, serve para aqueles meses que têm mais dias úteis e podem gerar um desequilíbrio nas contas, já que os gastos com transportes e alimentação no trabalho, por exemplo, podem ser maiores.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

Para a educadora financeira, enxergar esse dinheiro como um direito e não um bônus faz diferença no comportamento financeiro. “Quando a gente sabe que demandou um esforço para conquistar esse dinheiro, a gente acaba tendo uma disciplina maior do que se fosse simplesmente um dinheiro ganhado”.

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Como analisar o melhor destino para o 13° salário

Mila Gaudencio afirma que a forma de gastar o 13° salário deve ser decidida com base em uma análise pessoal, entendendo qual a realidade em que se vive. No entanto, há alguns pontos que devem ser levados em consideração para que essa decisão seja o mais acertada possível.

1⃣ Avaliação das dívidas

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, a CNC, até setembro de 2024, apesar de uma queda no número de endividados, o número de pessoas que se declaram endividadas no Brasil ainda era de 77,2%.

E embora o alto endividamento seja uma realidade brasileira, as dívidas podem gerar uma série de efeitos negativos na saúde mental de quem as contrai. Assim, se há dívidas importantes, de valores elevados e que pesem no orçamento, Mila pontua que priorizar pagá-las é uma boa opção.

Se as parcelas da dívida comprometem uma fatia importante do orçamento mensal, vale a pena usar o dinheiro do 13° salário para quitar os débitos totalmente ou, pelo menos, diminui-los.

A educadora financeira ainda alerta que vale procurar o banco para tentar negociar um desconto para a quitação do valor ou, se não for possível pagar tudo de uma vez, buscar alternativas para reduzir o valor das parcelas restantes — seja amortizando uma parte e/ou fazendo uma portabilidade das dívidas.

2⃣ Se não há dívidas, vale pensar nas contas que se aproximam.

“A pessoa tem que olhar para a realidade dela e olhar como um todo. Depois de dezembro, vem janeiro. E vem janeiro com outras despesas”, diz ela.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

Tradicionalmente, todo começo de ano chegam algumas contas que podem pesar sobre as finanças, como IPTU, IPVA, materiais escolares e férias, por exemplo.

Quem deixa para pensar nessas despesas só quando elas chegam, porém, pode começar o ano já se enrolando financeiramente, ao precisar parcelas as contas — contraindo novas dívidas.

Então, o conselho da educadora financeira é que aqueles que não têm uma reserva, ou pelo menos uma folga no orçamento, guardar o valor do 13° para arcar com essas despesas é uma boa escolha, capaz de trazer a desejada “paz de espírito” nos meses seguintes.

3⃣ Depois de analisar as contas passadas, presentes e futuras, tudo bem destinar uma parte do dinheiro para se presentear.

Mila considera que é “saudável que a pessoa que não tem dívidas e está com as contas em dia compre um presente para si”. Isso porque o dinheiro, para além de pagar contas, tem o propósito de proporcionar boas experiências para o trabalhador.

Porém, mesmo sem dívidas, a especialista alerta que é importante definir limites para os gastos — ainda mais no fim do ano, uma época que é “convidativa para os gastos”.

Se o valor do 13° salário for usado para comprar presentes (para a própria pessoa ou para outros), vale a pena decidir, antes mesmo de sair de casa, qual é o teto de gastos, ou seja, qual o valor máximo que será gasto com as compras.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

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Vai trabalhar no feriado de Proclamação da República? Conheça os seus direitos

Na proxima sexta-feira (15), o Brasil celebra o feriado de Proclamação da República. A data garante um dia a mais de descanso para os trabalhadores, além da possibilidade de emenda para quem folga no fim de semana.

Desde 1949, o feriado de 15 de Novembro é nacional, regulamentado pela Lei Federal 662, do presidente Eurico Gaspar Dutra. (entenda o significado e importância da data)

Apesar disso, não é todo mundo que acaba sendo beneficiado. A legislação trabalhista autoriza o funcionamento das atividades em alguns setores, que são classificados como essenciais. (confira abaixo)

⚠ Mas atenção: quem for escalado para trabalhar na data tem alguns direitos assegurados, como remuneração em dobro ou um dia de folga compensatória.

O g1 conversou com advogados especialistas em direito trabalhista para te ajudar a entender mais sobre o assunto.

Abaixo, você vai descobrir:

🤔 Meu chefe pode me obrigar a trabalhar durante o feriado?

⚖ Quais são os meus direitos?

💰 Remuneração em dobro ou folga? Quem define?

❌ Faltei ao trabalho, apesar de ter sido escalado. Posso ser demitido por justa causa?

⚠ As regras são diferentes para empregado fixo e temporário?

✍🏼 Como funciona no caso do trabalhador intermitente?

📆 Quais são os proximos feriados de 2024?

1. Meu chefe pode me obrigar a trabalhar durante o feriado?

Sim. Apesar do artigo 70 da CLT proibir atividades profissionais durante feriados nacionais, a legislação abre exceções para serviços considerados essenciais, como setores de indústria, comércio, transportes, comunicações, serviços funerários, atividades ligadas à segurança, entre outros.

Além disso, o empregador pode solicitar que o funcionário trabalhe durante o feriado quando houver uma Convenção Coletiva de Trabalho, que é um acordo antecipado feito entre empregadores e sindicatos.

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2. Quais são os meus direitos?

Para quem é obrigado a trabalhar no feriado, a legislação garante o pagamento da remuneração em dobro ou compensação com folga em outro dia.

” Havendo banco de horas também poderão ser lançadas essas horas de trabalho, nos termos do acordo individual ou coletivo”, explica Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista e sócia do A. C Burlamaqui Consultores.

” Havendo banco de horas também poderão ser lançadas essas horas de trabalho, nos termos do acordo individual ou coletivo”, explica Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista e sócia do A. C Burlamaqui Consultores.

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3. Remuneração em dobro ou folga? Quem define?

A definição do tipo de compensação (seja através do pagamento em dobro ou concessão de folga compensatória) geralmente é determinada durante o acordo que feito entre empregador e sindicato.

Na ausência da Convenção Coletiva de Trabalho, a decisão pode ser negociada entre empregador e funcionário. No entanto, é importante que as duas partes estejam de acordo e que a compensação escolhida esteja em conformidade com a legislação.

“O empregador não pode decidir de forma unilateral. Se houver um acordo ou convenção coletiva prevendo a compensação por folga, essa regra prevalece; caso não exista, o pagamento em dobro pelo trabalho no feriado é obrigatório”, afirma Elisa Alonso, advogada trabalhista e sócia do RCA Advogados.

“O empregador não pode decidir de forma unilateral. Se houver um acordo ou convenção coletiva prevendo a compensação por folga, essa regra prevalece; caso não exista, o pagamento em dobro pelo trabalho no feriado é obrigatório”, afirma Elisa Alonso, advogada trabalhista e sócia do RCA Advogados.

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4. Faltei ao trabalho, apesar de ter sido escalado. Posso ser demitido por justa causa?

Depende. A falta, diante da determinação do empregador para o comparecimento, poderá ser entendida como insubordinação, que é a desobediência a um superior.

“Mas a dispensa por justa causa, em geral, não decorre de um fato isolado, mas de um comportamento faltoso de forma reiterada”, afirma Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista.

“Mas a dispensa por justa causa, em geral, não decorre de um fato isolado, mas de um comportamento faltoso de forma reiterada”, afirma Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista.

Com isso, a demissão por justa causa geralmente segue um processo que deve incluir uma soma de advertências escritas e tentativas de correção de comportamento.

Em caso de expediente normal, o empregado poderá sofrer outras penalidades administrativas como o desconto do dia não trabalhado que será considerado falta injustificada.

“A falta injustificada deve ser repreendida, no entanto, para fins de justa causa necessário que outros sejam analisados, como a recorrência da conduta, o impacto causado à empresa e a função desempenhada pelo empregado, por exemplo”, completa a advogada trabalhista Elisa Alonso.

“A falta injustificada deve ser repreendida, no entanto, para fins de justa causa necessário que outros sejam analisados, como a recorrência da conduta, o impacto causado à empresa e a função desempenhada pelo empregado, por exemplo”, completa a advogada trabalhista Elisa Alonso.

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5. As regras são diferentes para empregado fixo e temporário?

As regras básicas sobre trabalho em feriados aplicam-se tanto a empregados fixos quanto temporários, incluindo o direito ao pagamento em dobro ou folga compensatória.

No entanto, contratados por meio de vínculo de trabalho temporário podem ter pré-condições específicas.

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6. Como funciona no caso do trabalhador intermitente?

Para o trabalhador que é contratado em regime de trabalho intermitente (previsão legal inserida na CLT pela Reforma Trabalhista de 2017), o pagamento em feriados deve ser acordado no momento da admissão.

O contrato de trabalho intermitente deve especificar o valor da hora de trabalho, que já deve considerar os adicionais devidos por trabalho em feriados ou horas extras.

Dessa forma, o trabalhador intermitente receberá o valor que foi combinado para os dias trabalhados, incluindo feriados, aponta o advogado Luís Nicoli.

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7. Quais são os próximos feriados de 2024?

O ano de 2024 está sendo marcado por ter poucos “feriadões” prolongados. O proximo feriado é o Dia da Consciência Negra, na quarta-feira (20), que agora passou a ser um feriado nacional.

A alteração foi aprovada no Congresso em novembro passado e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Antes, a data não fazia parte do calendário nacional e nem era considerada ponto facultativo nacional. A folga dependia de lei municipal ou estadual.

Após o mês de novembro, o próximo feriado nacional será o Natal, em 25 de dezembro. Porém a data cai em uma quarta-feira, o que pode dificultar uma possibilidade de emenda.

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O que é ‘woke’ e por que termo gera batalha cultural e política nos EUA

“Acordei.” Este é o significado literal da palavra “woke”, passado do verbo wake, que significa “acordar, despertar”.

Recentemente, no entanto, o termo ganhou significados bem mais amplos. Na gíria norte-americana, ser ou estar “woke” pode indicar com quais posturas políticas você mais se identifica.

Neste ano, antes das eleições dos EUA em novembro, “woke” e alguns outros termos têm tido uma forte presença no debate online e, de acordo com especialistas, podem influenciar significativamente os eleitores.

O uso do termo “woke” surgiu na comunidade afro-americana. Originalmente, ele queria dizer “estar alerta para a injustiça racial”.

“Muitas pessoas acreditam que quem o cunhou foi (o romancista) William Melvin Kelley (1937-2017)”, afirma Elijah Watson, editor de notícias e cultura do website de música norte-americana Okayplayer e autor de uma série de artigos sobre a origem do termo “woke”.

Em 1962, Kelley publicou um artigo no jornal The New York Times com o título If You’re Woke, You Dig it (“Se você estiver acordado, entenderá”, em tradução livre), segundo Watson.

O termo ressurgiu na última década com o movimento Black Lives Matter, criado para denunciar a brutalidade policial contra as pessoas afrodescendentes. Mas, desta vez, seu uso se espalhou para além da comunidade negra e passou a ser empregado com significado mais amplo.

Até que, em 2017, o dicionário inglês Oxford acrescentou este novo significado de woke, definido como: “estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo”.

Parece algo positivo, certo? Mas isso depende da pessoa a quem se faz essa pergunta.

Assim como algumas pessoas se autodefinem com muito orgulho como alguém woke, ou atento contra a discriminação e a injustiça, outros utilizam o termo como insulto.

O próprio dicionário Oxford faz esta distinção. Após a definição, ele acrescenta: “esta palavra é frequentemente empregada com desaprovação por pessoas que pensam que outros se incomodam muito facilmente com estes assuntos, ou falam demais sobre eles, sem promover nenhuma mudança”.

Segundo o dicionário americano Merriam-Webster, o termo é usado com desaprovação para referir-se a alguém politicamente liberal (em temas como justiça racial e social), especialmente de forma considerada insensata ou extremista.

Ou seja, para algumas pessoas, ser “woke” é ter consciência social e racial, questionando paradigmas e normas opressores historicamente impostos pela sociedade. Já para outros, o termo descreve hipócritas que acreditam que são moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas sobre os demais.

Os críticos da cultura “woke” questionam principalmente os métodos coercitivos adotados por pessoas que eles acusam ser “policiais da linguagem” — sobretudo em expressões e ideias consideradas misóginas, homofóbicas ou racistas.

Um método que vem gerando muito mal estar é o “cancelamento”: o boicote social e profissional, normalmente realizado por meio das redes sociais, contra indivíduos que cometeram ou disseram algo que, para eles, é intolerável.

Para as pessoas “woke”, trata-se de uma forma de protesto não violento que permite empoderar grupos historicamente marginalizados da sociedade e corrigir comportamentos, especialmente nos setores mais privilegiados que, até agora, eram parte do status quo e persistiam sem punição, nem mudança.

Mas os críticos afirmam que o cancelamento é a correção política levada ao extremo e que ele atenta contra a liberdade de expressão e “os valores tradicionais norte-americanos”.

Batalha política

O ex-presidente americano Donald Trump é o maior crítico da cultura ‘woke’, que ele associa ao atual mandatário, Joe Biden

O que começou como um choque cultural foi se transformando em um enfrentamento político.

O termo “woke” tornou-se sinônimo de políticas liberais ou de esquerda, que defendem temas como igualdade racial e social, feminismo, o movimento LGBTQIA+, o uso de pronomes de gênero neutro, o multiculturalismo, a vacinação, o ativismo ecológico e o direito ao aborto.

São políticas associadas, nos Estados Unidos, ao Partido Democrata do presidente Joe Biden e à ala mais liberal, que inclui políticos americanos como os congressistas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez.

Por outro lado, a ala mais extrema do Partido Republicano, liderada pelo ex-presidente americano Donald Trump, acredita que essas políticas representam não só uma ameaça aos “valores da família”, mas também à própria democracia, que se pretenderia “substituir por uma tirania woke”.

Em 2020, um dos eixos centrais da campanha para a reeleição de Trump foi combater os chamados woke lefties (“esquerdistas despertos”) que, segundo ele, praticam o “fascismo da extrema esquerda”.

O então presidente afirmou que a “cultura do cancelamento” estava “expulsando as pessoas dos seus trabalhos, envergonhando os dissidentes e exigindo a total submissão de qualquer pessoa que não esteja de acordo”.

“É a própria definição de totalitarismo”, acusou o líder republicano.

Já para os democratas, o autoritário é Trump, algo que, segundo eles, ficou demonstrado quando ele se recusou a deixar o poder após sua derrota eleitoral e seus simpatizantes invadiram o Capitólio.

Longe de equilibrar o debate, os dois primeiros anos do governo Biden aprofundaram a polarização entre os dois setores. Segundo o centro de pesquisas norte-americano Pew Research Center, “hoje, os democratas e os republicanos estão ideologicamente mais afastados do que em qualquer outro momento nos últimos 50 anos”.

E uma pesquisa realizada em setembro pela rede de TV CBS demonstrou que quase a metade dos membros de ambos os partidos considera o outro não como um opositor político, mas como um “inimigo”.

Trump falou sobre a ‘cultura woke’ na última Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês)

Eleições

Antes da eleição presidencial dos EUA de 2024, a discussão sobre o termo já tinha sido debate no campo eleitoral.

As diferenças ideológicas ganharam forças às vésperas das eleições legislativas americanas de 2022, conhecidas como eleições de meio de mandato (midterm, em inglês).

Durante a campanha eleitoral, muitos partidários de Trump voltaram a alertar sobre os supostos perigos do chamado “wokeísmo” democrata.

“Você pode perder o seu trabalho. Pode ser rejeitado na arena pública americana nas redes sociais. Pode ser perseguido na rua. Podem atirar coisas em você. Você pode ser agredido fisicamente (como ocorreu ao escritor) Salman Rushdie. Pode ser apunhalado na garganta se eles não concordarem com você”, afirmou recentemente na rede de TV Fox News a comentarista política conservadora Tammy Bruce.

Muitos democratas criticam esse tipo de afirmação, destacando que se trata de retórica alarmista em busca de votos.

“A cada eleição, (os republicanos) inventam um novo bicho-papão, em vez de tentar resolver problemas e melhorar a vida das pessoas”, criticou o democrata Charlie Crist, à rede CBS News.

Ron DeSantis, governador da Flórida, é um dos republicanos que mais ressaltam os supostos perigos da cultura “woke” dos seus rivais. Nos seus discursos, ele costuma repetir que “woke é a nova religião da esquerda”.

Neste contexto, alguns democratas — especialmente os mais moderados — alertaram que o chamado “wokeísmo” está prejudicando seu partido, fornecendo armas para que os republicanos os ataquem.

“O woke é um problema e todos (do Partido Democrata) sabem disso”, afirmou o consultor político democrata James Carville, que liderou a vitoriosa campanha presidencial de Bill Clinton nos anos 1990, ao site Vox.

Para Carville, o problema são algumas das propostas mais extremistas que excluem os setores conservadores da sociedade e são usadas pelos trumpistas para assustar o eleitorado.

Como exemplo, ele mencionou a iniciativa para “retirar o financiamento da polícia” e usar esses fundos para programas de ajuda comunitária. Essa ideia surgiu após o assassinato de George Floyd em 2020 e procura pôr fim ao chamado “racismo sistêmico nas forças de segurança”.

Embora muitos democratas, incluindo o presidente Biden, tenham se manifestado contra essa ideia, alguns a apoiaram, o que fez com que diversos candidatos republicanos associassem todo o partido à proposta, que é impopular entre grande parte da população.

Obama e AOC

A cultura “woke” também gerou críticas internas na liderança do Partido Democrata. E um dos seus detratores mais famosos e ativos é o ex-presidente Barack Obama.

O ex-presidente americano Barack Obama: ‘Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe’

Em 2019, às vésperas da escolha de Joe Biden como o candidato democrata para as eleições presidenciais do ano seguinte, Obama criticou que especialmente os mais jovens estivessem se concentrando em verificar o grau de wokeness de cada pessoa.

Ele se manifestou depois que diversos pré-candidatos democratas foram forçados a pedir desculpas em público por declarações feitas no passado.

“Tenho a sensação de que alguns jovens nas redes sociais acreditam que a forma de gerar mudanças é julgar as outras pessoas o máximo possível”, afirmou o ex-presidente durante um encontro anual da Fundação Obama.

“Se eu posto um tuíte ou publico uma hashtag sobre como você não fez algo direito ou usou o verbo incorreto, posso sentar-me e me sentir muito bem comigo mesmo: ‘Viu como fui woke? Peguei você!'”, afirmou Obama.

“Chega! Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe”, acrescentou ele. “O mundo é desordenado. Existem ambiguidades. As pessoas que fazem coisas muito boas têm defeitos.”

Mas a legisladora mais jovem da Câmara dos Representantes, a carismática democrata Alexandria Ocasio-Cortez, saiu em defesa do “wokeísmo”.

AOC, como é conhecida, destacou que, se o partido se saísse mal nas eleições daquele ano, teria sido porque o Congresso não conseguiu aprovar leis sobre o direito ao voto, uma das causas emblemáticas dos ativistas “woke”.

Os democratas mais jovens, como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, são os que mais alimentam a chamada cultura ‘woke’

“Woke é um termo que os especialistas vêm usando como eufemismo pejorativo de direitos civis e justiça”, publicou ela na sua conta no X em novembro de 2021.

“Inventar um problema woke tem como resultado colocar em segundo plano os direitos civis e de voto”, alerta AOC. “Em um ano em que os legislativos estaduais estão planejando maiorias republicanas e supressão de eleitores, isso é perigoso.”

‘Capitalismo woke’

Os debates sobre o “wokeísmo” não dominam apenas a agenda política e cultural americana. Eles também ingressaram no mundo empresarial.

Algumas empresas passaram a ser atacadas nos últimos anos ao adotarem mudanças que são interpretadas — para o bem ou para o mal — como “woke”.

Um caso conhecido é o da Gillette, que gerou polêmica em 2019 com uma publicidade chamada “o melhor que os homens podem ser”, criticando comportamentos masculinos tóxicos, como o bullying, o assédio sexual e o sexismo.

O anúncio foi aplaudido por muitos, mas também chegou a tornar-se um dos vídeos mais reprovados do YouTube, provocando um boicote contra a fabricante de lâminas de barbear.

O golpe econômico sofrido pela dona da empresa, a Procter & Gamble, levou à criação de um meme que se popularizou entre a direita: “Get woke, go broke” (“vire woke, vá à falência”).

Nos últimos tempos, a empresa que recebeu mais elogios e críticas por ser considerada woke é a Disney.

A Disney pode perder os direitos autorais sobre o personagem Mickey em 2024, após adotar políticas consideradas ‘woke’ pelos republicanos

Em abril de 2022, o governador DeSantis assinou uma lei para retirar o status legal especial da Walt Disney Company, que retira o status especial da empresa no Estado da Flórida. E legisladores republicanos advertiram que não aprovariam a prorrogação dos direitos autorais da Disney sobre o seu principal personagem, Mickey.

Tudo isso se deu em represália à oposição dos executivos da empresa a uma lei que proíbe aulas sobre sexualidade, orientação sexual e diversidade de gênero nas escolas primárias da Flórida, apelidada pelos críticos de lei “Não Diga Gay”.

Pressionada pelos funcionários que protestaram e deflagraram greve frente ao silêncio inicial da empresa, a Disney publicou um comunicado contrário a essa norma.

“Nossos funcionários veem o poder desta grande empresa como uma oportunidade de fazer o bem. Estou de acordo”, disse, na época, o diretor-executivo (CEO) da Disney, Bob Chapek.

A empresa também foi acusada por alguns setores conservadores de “fazer ativismo woke”, quando escolheu uma atriz negra como protagonista da nova versão do clássico A Pequena Sereia.

No desenho original, a personagem Ariel (baseada no conto de fadas de Hans Christian Andersen) é retratada como uma sereia de pele branca e olhos azuis (Ariel é ruiva nas duas versões).

Por outro lado, a escolha de uma atriz de pele negra foi elogiada por muitas vozes que não só se sentiram representadas, mas também consideram que, como as sereias são personagens mitológicos, elas podem ter qualquer cor de pele.

DeSantis e outros republicanos também criticaram as empresas que priorizam os investimentos com impacto ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês), classificando-as como “capitalismo woke”.

Leia nesta reportagem sobre como termos como “weird”, “woke” e “brat” têm impactado o debate político nos Estados Unidos antes das eleições de novembro.

https://www.bbc.com/portuguese/live/cdd02zr90lnt
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O que é ‘woke’ e por que termo gera batalha cultural e política nos EUA

“Acordei.” Este é o significado literal da palavra “woke”, passado do verbo wake, que significa “acordar, despertar”.

Recentemente, no entanto, o termo ganhou significados bem mais amplos. Na gíria norte-americana, ser ou estar “woke” pode indicar com quais posturas políticas você mais se identifica.

Neste ano, antes das eleições dos EUA em novembro, “woke” e alguns outros termos têm tido uma forte presença no debate online e, de acordo com especialistas, podem influenciar significativamente os eleitores.

O uso do termo “woke” surgiu na comunidade afro-americana. Originalmente, ele queria dizer “estar alerta para a injustiça racial”.

“Muitas pessoas acreditam que quem o cunhou foi (o romancista) William Melvin Kelley (1937-2017)”, afirma Elijah Watson, editor de notícias e cultura do website de música norte-americana Okayplayer e autor de uma série de artigos sobre a origem do termo “woke”.

Em 1962, Kelley publicou um artigo no jornal The New York Times com o título If You’re Woke, You Dig it (“Se você estiver acordado, entenderá”, em tradução livre), segundo Watson.

O termo ressurgiu na última década com o movimento Black Lives Matter, criado para denunciar a brutalidade policial contra as pessoas afrodescendentes. Mas, desta vez, seu uso se espalhou para além da comunidade negra e passou a ser empregado com significado mais amplo.

Até que, em 2017, o dicionário inglês Oxford acrescentou este novo significado de woke, definido como: “estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo”.

Parece algo positivo, certo? Mas isso depende da pessoa a quem se faz essa pergunta.

Assim como algumas pessoas se autodefinem com muito orgulho como alguém woke, ou atento contra a discriminação e a injustiça, outros utilizam o termo como insulto.

O próprio dicionário Oxford faz esta distinção. Após a definição, ele acrescenta: “esta palavra é frequentemente empregada com desaprovação por pessoas que pensam que outros se incomodam muito facilmente com estes assuntos, ou falam demais sobre eles, sem promover nenhuma mudança”.

Segundo o dicionário americano Merriam-Webster, o termo é usado com desaprovação para referir-se a alguém politicamente liberal (em temas como justiça racial e social), especialmente de forma considerada insensata ou extremista.

Ou seja, para algumas pessoas, ser “woke” é ter consciência social e racial, questionando paradigmas e normas opressores historicamente impostos pela sociedade. Já para outros, o termo descreve hipócritas que acreditam que são moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas sobre os demais.

Os críticos da cultura “woke” questionam principalmente os métodos coercitivos adotados por pessoas que eles acusam ser “policiais da linguagem” — sobretudo em expressões e ideias consideradas misóginas, homofóbicas ou racistas.

Um método que vem gerando muito mal estar é o “cancelamento”: o boicote social e profissional, normalmente realizado por meio das redes sociais, contra indivíduos que cometeram ou disseram algo que, para eles, é intolerável.

Para as pessoas “woke”, trata-se de uma forma de protesto não violento que permite empoderar grupos historicamente marginalizados da sociedade e corrigir comportamentos, especialmente nos setores mais privilegiados que, até agora, eram parte do status quo e persistiam sem punição, nem mudança.

Mas os críticos afirmam que o cancelamento é a correção política levada ao extremo e que ele atenta contra a liberdade de expressão e “os valores tradicionais norte-americanos”.

Batalha política

O ex-presidente americano Donald Trump é o maior crítico da cultura ‘woke’, que ele associa ao atual mandatário, Joe Biden

O que começou como um choque cultural foi se transformando em um enfrentamento político.

O termo “woke” tornou-se sinônimo de políticas liberais ou de esquerda, que defendem temas como igualdade racial e social, feminismo, o movimento LGBTQIA+, o uso de pronomes de gênero neutro, o multiculturalismo, a vacinação, o ativismo ecológico e o direito ao aborto.

São políticas associadas, nos Estados Unidos, ao Partido Democrata do presidente Joe Biden e à ala mais liberal, que inclui políticos americanos como os congressistas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez.

Por outro lado, a ala mais extrema do Partido Republicano, liderada pelo ex-presidente americano Donald Trump, acredita que essas políticas representam não só uma ameaça aos “valores da família”, mas também à própria democracia, que se pretenderia “substituir por uma tirania woke”.

Em 2020, um dos eixos centrais da campanha para a reeleição de Trump foi combater os chamados woke lefties (“esquerdistas despertos”) que, segundo ele, praticam o “fascismo da extrema esquerda”.

O então presidente afirmou que a “cultura do cancelamento” estava “expulsando as pessoas dos seus trabalhos, envergonhando os dissidentes e exigindo a total submissão de qualquer pessoa que não esteja de acordo”.

“É a própria definição de totalitarismo”, acusou o líder republicano.

Já para os democratas, o autoritário é Trump, algo que, segundo eles, ficou demonstrado quando ele se recusou a deixar o poder após sua derrota eleitoral e seus simpatizantes invadiram o Capitólio.

Longe de equilibrar o debate, os dois primeiros anos do governo Biden aprofundaram a polarização entre os dois setores. Segundo o centro de pesquisas norte-americano Pew Research Center, “hoje, os democratas e os republicanos estão ideologicamente mais afastados do que em qualquer outro momento nos últimos 50 anos”.

E uma pesquisa realizada em setembro pela rede de TV CBS demonstrou que quase a metade dos membros de ambos os partidos considera o outro não como um opositor político, mas como um “inimigo”.

Trump falou sobre a ‘cultura woke’ na última Conferência da Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês)

Eleições

Antes da eleição presidencial dos EUA de 2024, a discussão sobre o termo já tinha sido debate no campo eleitoral.

As diferenças ideológicas ganharam forças às vésperas das eleições legislativas americanas de 2022, conhecidas como eleições de meio de mandato (midterm, em inglês).

Durante a campanha eleitoral, muitos partidários de Trump voltaram a alertar sobre os supostos perigos do chamado “wokeísmo” democrata.

“Você pode perder o seu trabalho. Pode ser rejeitado na arena pública americana nas redes sociais. Pode ser perseguido na rua. Podem atirar coisas em você. Você pode ser agredido fisicamente (como ocorreu ao escritor) Salman Rushdie. Pode ser apunhalado na garganta se eles não concordarem com você”, afirmou recentemente na rede de TV Fox News a comentarista política conservadora Tammy Bruce.

Muitos democratas criticam esse tipo de afirmação, destacando que se trata de retórica alarmista em busca de votos.

“A cada eleição, (os republicanos) inventam um novo bicho-papão, em vez de tentar resolver problemas e melhorar a vida das pessoas”, criticou o democrata Charlie Crist, à rede CBS News.

Ron DeSantis, governador da Flórida, é um dos republicanos que mais ressaltam os supostos perigos da cultura “woke” dos seus rivais. Nos seus discursos, ele costuma repetir que “woke é a nova religião da esquerda”.

Neste contexto, alguns democratas — especialmente os mais moderados — alertaram que o chamado “wokeísmo” está prejudicando seu partido, fornecendo armas para que os republicanos os ataquem.

“O woke é um problema e todos (do Partido Democrata) sabem disso”, afirmou o consultor político democrata James Carville, que liderou a vitoriosa campanha presidencial de Bill Clinton nos anos 1990, ao site Vox.

Para Carville, o problema são algumas das propostas mais extremistas que excluem os setores conservadores da sociedade e são usadas pelos trumpistas para assustar o eleitorado.

Como exemplo, ele mencionou a iniciativa para “retirar o financiamento da polícia” e usar esses fundos para programas de ajuda comunitária. Essa ideia surgiu após o assassinato de George Floyd em 2020 e procura pôr fim ao chamado “racismo sistêmico nas forças de segurança”.

Embora muitos democratas, incluindo o presidente Biden, tenham se manifestado contra essa ideia, alguns a apoiaram, o que fez com que diversos candidatos republicanos associassem todo o partido à proposta, que é impopular entre grande parte da população.

Obama e AOC

A cultura “woke” também gerou críticas internas na liderança do Partido Democrata. E um dos seus detratores mais famosos e ativos é o ex-presidente Barack Obama.

O ex-presidente americano Barack Obama: ‘Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe’

Em 2019, às vésperas da escolha de Joe Biden como o candidato democrata para as eleições presidenciais do ano seguinte, Obama criticou que especialmente os mais jovens estivessem se concentrando em verificar o grau de wokeness de cada pessoa.

Ele se manifestou depois que diversos pré-candidatos democratas foram forçados a pedir desculpas em público por declarações feitas no passado.

“Tenho a sensação de que alguns jovens nas redes sociais acreditam que a forma de gerar mudanças é julgar as outras pessoas o máximo possível”, afirmou o ex-presidente durante um encontro anual da Fundação Obama.

“Se eu posto um tuíte ou publico uma hashtag sobre como você não fez algo direito ou usou o verbo incorreto, posso sentar-me e me sentir muito bem comigo mesmo: ‘Viu como fui woke? Peguei você!'”, afirmou Obama.

“Chega! Se tudo o que você faz é atirar pedras, provavelmente não irá muito longe”, acrescentou ele. “O mundo é desordenado. Existem ambiguidades. As pessoas que fazem coisas muito boas têm defeitos.”

Mas a legisladora mais jovem da Câmara dos Representantes, a carismática democrata Alexandria Ocasio-Cortez, saiu em defesa do “wokeísmo”.

AOC, como é conhecida, destacou que, se o partido se saísse mal nas eleições daquele ano, teria sido porque o Congresso não conseguiu aprovar leis sobre o direito ao voto, uma das causas emblemáticas dos ativistas “woke”.

Os democratas mais jovens, como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, são os que mais alimentam a chamada cultura ‘woke’

“Woke é um termo que os especialistas vêm usando como eufemismo pejorativo de direitos civis e justiça”, publicou ela na sua conta no X em novembro de 2021.

“Inventar um problema woke tem como resultado colocar em segundo plano os direitos civis e de voto”, alerta AOC. “Em um ano em que os legislativos estaduais estão planejando maiorias republicanas e supressão de eleitores, isso é perigoso.”

‘Capitalismo woke’

Os debates sobre o “wokeísmo” não dominam apenas a agenda política e cultural americana. Eles também ingressaram no mundo empresarial.

Algumas empresas passaram a ser atacadas nos últimos anos ao adotarem mudanças que são interpretadas — para o bem ou para o mal — como “woke”.

Um caso conhecido é o da Gillette, que gerou polêmica em 2019 com uma publicidade chamada “o melhor que os homens podem ser”, criticando comportamentos masculinos tóxicos, como o bullying, o assédio sexual e o sexismo.

O anúncio foi aplaudido por muitos, mas também chegou a tornar-se um dos vídeos mais reprovados do YouTube, provocando um boicote contra a fabricante de lâminas de barbear.

O golpe econômico sofrido pela dona da empresa, a Procter & Gamble, levou à criação de um meme que se popularizou entre a direita: “Get woke, go broke” (“vire woke, vá à falência”).

Nos últimos tempos, a empresa que recebeu mais elogios e críticas por ser considerada woke é a Disney.

A Disney pode perder os direitos autorais sobre o personagem Mickey em 2024, após adotar políticas consideradas ‘woke’ pelos republicanos

Em abril de 2022, o governador DeSantis assinou uma lei para retirar o status legal especial da Walt Disney Company, que retira o status especial da empresa no Estado da Flórida. E legisladores republicanos advertiram que não aprovariam a prorrogação dos direitos autorais da Disney sobre o seu principal personagem, Mickey.

Tudo isso se deu em represália à oposição dos executivos da empresa a uma lei que proíbe aulas sobre sexualidade, orientação sexual e diversidade de gênero nas escolas primárias da Flórida, apelidada pelos críticos de lei “Não Diga Gay”.

Pressionada pelos funcionários que protestaram e deflagraram greve frente ao silêncio inicial da empresa, a Disney publicou um comunicado contrário a essa norma.

“Nossos funcionários veem o poder desta grande empresa como uma oportunidade de fazer o bem. Estou de acordo”, disse, na época, o diretor-executivo (CEO) da Disney, Bob Chapek.

A empresa também foi acusada por alguns setores conservadores de “fazer ativismo woke”, quando escolheu uma atriz negra como protagonista da nova versão do clássico A Pequena Sereia.

No desenho original, a personagem Ariel (baseada no conto de fadas de Hans Christian Andersen) é retratada como uma sereia de pele branca e olhos azuis (Ariel é ruiva nas duas versões).

Por outro lado, a escolha de uma atriz de pele negra foi elogiada por muitas vozes que não só se sentiram representadas, mas também consideram que, como as sereias são personagens mitológicos, elas podem ter qualquer cor de pele.

DeSantis e outros republicanos também criticaram as empresas que priorizam os investimentos com impacto ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês), classificando-as como “capitalismo woke”.

Leia nesta reportagem sobre como termos como “weird”, “woke” e “brat” têm impactado o debate político nos Estados Unidos antes das eleições de novembro.

https://www.bbc.com/portuguese/live/cdd02zr90lnt
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A esquerda no seu labirinto

Por André Gustavo Stumpf, jornalista — O professor Cristovam Buarque vinha ensaiando a crítica maior que apareceu, por completo, no seu artigo De farol a retrovisor, publicado no Correio Braziliense no último dia 23. O ilustre professor, ex-governador do DF, faz profunda crítica às esquerdas de maneira geral e ao PT, em particular. Ele que foi ministro da Educação do presidente Lula, duas vezes senador, era um petista raiz até votar a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Jamais foi perdoado. Independentemente de questões pessoais, a crítica à esquerda é uma realidade que se impõe pela verdade dos fatos.

Os jornais descobriram, nos últimos dias, que o Brasil tem mais de 100 empresas públicas. Todas penduradas no Orçamento da República. O prejuízo que juntas vão apresentar neste ano é da ordem de R$ 3,3 bilhões. Elas estão na área de informática, no agronegócio, na área militar, entre outros setores. O maior prejuízo é da Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), comandada pelo pessoal da Marinha de Guerra. A Empresa de Correios e Telégrafos já foi superavitária. Agora, opera no prejuízo. Emgea, empresa de planejamento financeiro; Infraero, que foi substituída pela NAV, que agora criou a Alada para administrar a base aeroespacial de Alcântara, no Maranhão, que nunca lançou nem balão de São João. Ainda há a Dataprev que cuida das pessoas que precisam da Previdência Social e permanecem naquela fila de dois anos de espera.

Isso é o retrato da administração petista, que precisa de empresas estatais para colocar seus filiados, tenham eles ou não competência para dirigir as empresas. O resultado é desastroso. Deficits monumentais quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do PT, trabalha para aumentar a arrecadação e reduzir os gastos de governo. Quem mais critica o ministro é a alta direção do PT contrária a qualquer tipo de redução de gastos. A porção mais desenvolvida no Brasil, que depende menos do governo, percebe essa situação. O agronegócio, por exemplo, trabalha com padrões equivalentes às melhores práticas internacionais. Da porteira para dentro, tudo corre muito bem e atende às rigorosas exigências internacionais. O país é um dos maiores exportadores de alimentos para o mundo. No entanto, as estradas são esburacadas, as ferrovias não chegam e os portos funcionam devagar porque estão aprisionados por questões políticas. São dois países que coabitam o mesmo espaço.

Um cálculo simples indica que a venda de boa parte das empresas estatais significaria acabar com o prejuízo e fazer algum dinheiro com a venda dos ativos. Um bom exemplo é a Embraer, criada pelos militares da Aeronáutica para fazer um avião de integração nacional, o Bandeirante. Mas, a partir desse estágio, o grupo não tinha a expertise necessária para entrar no mercado internacional de produção e venda de aviões. A empresa foi privatizada e, hoje, é a terceira maior do mundo. Perde para a Boeing, que está em dificuldades, e para o consórcio europeu Airbus. Crescimento espetacular e uma presença constante no mercado internacional em todo o planeta. É uma lição óbvia do melhor caminho para as empresas públicas. Outro belo exemplo de sucesso é o da antiga Vale do Rio Doce, hoje Vale, que foi privatizada e está entre as maiores do mundo. O presidente Lula tentou colocar pessoa de sua confiança na diretoria da empresa. Não conseguiu.

Isso ocorre no território da economia tradicional. Hoje, a nova economia, que vai dominando o atual cenário, trabalha com outras coordenadas. As pessoas trabalham em casa, embora estejam operando no exterior. Recebem em moeda forte e não querem saber de sindicato regulando aquela atividade. A inteligência artificial modifica as relações. Pessoas trabalham aqui em empresas estrangeiras, e estrangeiros que trabalham fora do país em empresas nacionais. Há estudantes fazendo pós-graduação em universidades europeias sem sair do país. Assistem às aulas pelo computador. Cada vez mais, a vida transcorre pelo computador e pelo telefone celular. O atendimento pessoal passou a ser algo secundário. Nesse cenário, a esquerda perdeu sua oportunidade. Ela não encontra espaço para operar seu modelo sindicalista nesse ambiente e se transforma em agente conservador.

Esse fenômeno se apresenta no resultado das eleições municipais. O Partido dos Trabalhadores perdeu até mesmo nos seus redutos tradicionais em torno da cidade de São Paulo. Uma derrota significativa, que vai dificultar a possível candidatura de Lula a seu quarto mandato, quando terá 81 anos. Antes disso, os últimos dois anos deste atual mandato serão especialmente difíceis, porque seu partido é minoritário no Congresso e os partidos de oposição vão dominar a maioria dos 5.500 municípios brasileiros. A esquerda precisa abrir os olhos de ver. O mundo mudou muito desde que a União Soviética deixou de existir. E o muro de Berlim caiu.

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