Cinco meses depois do surgimento das primeiras manchas de óleo, diferentes órgãos do governo federal ainda tentam esclarecer qual foi a origem do desastre ambiental que atingiu praias de nove estados do Nordeste e dois no Sudeste (Espírito Santo e Rio de Janeiro). Tanto as investigações da Marinha e quanto os esforços da Polícia Federal ainda não chegaram a uma conclusão.
O Ibama afirma que 1.004 localidades foram atingidas desde 30 de agosto, de acordo com o balanço mais recente. A situação atual é diferente do pico do desastre, quando grandes manchas de óleo atingiram corais, afetaram a vida de animais marinhos e chegavam às praias misturando-se à areia, trazendo risco à saúde de voluntários que recolhiam o material com as mãos.
Agora, segundo o Ibama, 56% das localidades (570 pontos) estavam limpas até 21 de janeiro; 43% (ou 434) tinham registros esparsos, e nenhum ponto apresentava mais de 10% de poluição a cada 1 km analisado.
Em entrevista ao Jornal Nacional, o porta-voz da Marinha afirmou que investigações não têm “dias para acabar. Nem ano”.
“Em conjunto com a Polícia Federal, ainda permanecemos levantando dados. O suspeito não quer dizer indiciado. Estamos numa fase ainda de apuração dos dados. Temos alguma dificuldade de obtenção de documentos em função de acordos internacionais de onde o navio atraca”, disse o porta-voz ao JN.
Operação Mácula e navio Bouboulina
Quando a operação Mácula, da Polícia Federal, desencadeada em 1º de novembro (63 dias após os primeiros registros) apontou o navio grego Bouboulina como principal suspeito, o caso parecia se encaminhar para uma solução.
Entretanto, o relatório da empresa HEX Tecnologia, que embasou a operação, apresentava inconsistências. A petroleira grega Delta Tankers, proprietária do navio-tanque Bouboulina, afirmou na época que “não há provas” de que a embarcação seja responsável pelo incidente. Segundo a Delta Tankers, o Bouboulina descarregou a carga completa de petróleo na Malásia.
“Não há provas de que o navio tenha parado, realizado qualquer tipo de operação STS [transferência de um navio para o outro], vazado, desacelerado ou desviado da rota, em seu caminho da Venezuela para Melaka, na Malásia”, diz o texto da Delta.
O G1 entrou em contato com a Polícia Federal em Brasília e no Rio Grande do Norte e, desde 16 de janeiro, aguarda uma resposta sobre as investigações.
A Marinha
Em nota, a Marinha disse ao G1 que segue trabalhando em diversas linhas de investigação, com apoio do Ibama, da Polícia Federal, da Agência Nacional do Petróleo, agências e órgãos nacionais e estrangeiros, iniciativa privada, além de contar com peritos e pesquisadores da área científica e acadêmica.
Segundo a instituição, foi determinada uma área de investigação com base nos estudos oceanográficos das correntes marítimas e com isso, a Marinha reforçou que as linhas de investigação são:
Afundamentos recentes ou antigos de navios
Derramamento (acidental ou intencional) durante manobra ship-to-ship ou trânsito de navios petroleiros
Descarte irregular de tambores de óleo encontrados nas praias do Nordeste
Em entrevista à TV Globo, Ilques Barbosa Júnior, comandante da Marinha, apontou que os investigadores fizeram três pedidos de cooperação jurídica internacional, mas sem uma resposta concreta dos donos do navio suspeito.
>“Em conjunto com a Polícia Federal, ainda permanecemos levantando dados. Temos com alguma dificuldade de obtenção de documentos em função de acordos internacionais onde o navio atraca, mas nós fazemos as devidas investigações. Sem dia para terminar nem ano nem século. O que for necessário, a Marinha vai se debruçar sobre isso”, afirmou Ilques Barbosa Júnior, comandante da Marinha.
Na nota enviada ao G1, a Marinha ressaltou que mantém parcerias na busca por soluções. “As investigações prosseguem com apoio de instituições públicas e privadas, nacionais e estrangeiras. Cabe ressaltar que todos os recursos disponíveis e esforços estão sendo empregados para identificar as circunstâncias e a fonte causadora desses crimes” , informou a Marinha.
Fonte: G1