Estudante de Medicina é aprovada para estágio em Oxford

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Estudante de medicina da Universidade de Brasília (UnB), Ana Carla Franklin Braga, 23 anos, moradora do Riacho Fundo I, foi selecionada para um estágio em ginecologia e obstetrícia na renomada Universidade de Oxford, na Inglaterra. A oportunidade é oferecida anualmente para apenas 50 estudantes do mundo todo.

O programa de verão oferecido pela universidade inglesa é para realização de um estágio de seis semanas, entre janeiro e fevereiro de 2024, quando os selecionados terão aulas teóricas e práticas no hospital universitário John Radcliffe.

Para conseguir realizar o estágio, Ana Carla precisa arcar com custos referentes à estadia fora do país — as despesas giram em torno de R$ 30 mil. Com o intuito de conseguir o valor e não perder a oportunidade única, a estudante criou uma vaquinha online para doações (https://shre.ink/TG1d).

Na reta final para a graduação, Ana conta que a paixão pela medicina não foi à primeira vista. “Confesso que não queria medicina porque muitos colegas meus queriam, então eu achava que era uma profissão muito clichê”. Mas a internação urgente de sua mãe por problemas no útero mudaria sua perspectiva sobre a área. Enquanto seu pai trabalhava e cuidava de seus irmãos, a jovem foi acompanhante da mãe, o que a possibilitou ver de perto a rotina e dinâmica dos médicos dentro do hospital. “Foi nesse momento que eu me interessei, comecei a pesquisar mais sobre, e pouco tempo depois tive certeza de que queria medicina”, lembra.

A decisão pela área de ginecologia e obstetrícia surgiu como uma forma de empoderamento pessoal. A estudante acredita que as mulheres não possuem espaço para debater sobre questões relacionadas a seus corpos. “Eu adoro estudar saúde da mulher, me interessei principalmente porque era uma necessidade minha, de me conhecer mais. Acho que nós, mulheres, somos muito proibidas de conhecermos nosso corpo”, diz.

Em 2023, a estudante recebeu um e-mail da UnB sobre uma oportunidade de estágio em Oxford. Ana se interessou e começou a pesquisar mais sobre o curso. “Eu gosto muito de viajar, é uma das minhas paixões, então sempre me interessei em saber como funcionava a medicina em outros lugares” explica. Apesar das poucas vagas e da grande concorrência, a jovem não se sentiu intimidada, confiou na qualidade de suas notas e em sua força de vontade. “Sempre lutei a minha vida toda, por tudo, nada veio de mão beijada e eu sempre fui determinada.”

Filha mais velha de uma família de três irmãos, Ana conta que teve uma infância muito boa, porém, em 2010, enfrentou momentos que a marcariam para sempre. Aos 10 anos, Ana e sua família foram vítimas de um assalto a mão armada, todos foram feitos reféns e os assaltantes levaram tudo o que tinham.

Anos depois, na pandemia, a falência da empresa da mãe trouxe novas dívidas. Essa sequência de eventos fez com que a família passasse por uma crise financeira. “Sempre tivemos altos e baixos, e não nos recuperamos totalmente desde então”, relata. Como forma de ajudar os pais, ela começou a vender doces em sua escola durante o intervalo. “Por mais que fosse algo proibido na época, eu sempre dava um jeito de conseguir dinheiro por fora”, relembra.

Ana Carla fez todo o ensino médio em escolas particulares, com bolsa. Estudou o primeiro e o segundo ano no Colégio Leonardo da Vinci, em Taguatinga, e concluiu o terceiro ano no Colégio Seriös.

A universidade pública sempre foi o único objetivo de Ana. “O vestibular foi uma parte muito difícil da minha vida, de muito estudo e muito foco, porque eu sabia que meus pais não teriam condições de pagar uma faculdade ou um cursinho preparatório.” Depois de todo esforço e dedicação, Ana conseguiu sua aprovação em 2018.

A estudante relembra a importância do apoio dos pais nesse período de preparação e cita como se inspirou no pai para conquistar a vaga em um dos cursos mais concorridos da UnB. Sinval Freitas, professor de matemática da Secretaria de Educação do DF, e Claudia Oliveira, estudante de doutorado, são as principais inspirações e responsáveis pelo sucesso da filha. “Eles que sempre falaram que o estudo ia me levar longe. Meu pai veio de uma família muito pobre, morou na roça, e foi uma das poucas pessoas que teve ensino superior da família. Ele é um grande exemplo para mim “, diz.

*Estagiária sob a supervisão de Priscila Crispi.

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