Após a chegada ao Brasil da Oxxo, rede mexicana de lojas de conveniência, no fim de 2020, a sensação em cidades como São Paulo é de que existe “um mercadinho em cada esquina”, mas a multiplicação das lojas menores, ou de bairro, é uma tendência no varejo e deve continuar a ganhar força no próximo ano, segundo especialistas do segmento.
Hoje, dos 24.414 supermercados de São Paulo, pouco mais da metade, ou 12.560 estabelecimentos, é de pequenos, o que inclui redes de conveniência e minimercados, de acordo com a Associação Paulista de Supermercados. Apenas a Oxxo, em quatro anos de operação, já tem 600 lojas em 24 cidades do estado.
A consultoria de mercado Euromonitor avalia que, nos próximos anos, marcas como Oxxo, AmPm (dos postos Ipiranga) e Hirota Office devem continuar expandindo as lojas e investir em soluções fora dos postos de gasolina, instalando estabelecimentos em ruas, condomínios comerciais e residenciais. Uma grande aposta, com a volta do trabalho presencial, são lojas em condomínios empresariais ou sedes corporativas.
O valor movimentado por cada minimercado ou lojas de conveniência passou de R$ 8,7 milhões em 2019 para R$ 10,2 milhões no ano passado, segundo a Euromonitor, patamar que deve chegar a R$ 14,2 milhões em 2028.
Recentemente, circularam no mercado comentários de que a Raízen estaria interessada em vender sua participação na rede Oxxo, mas, segundo fontes do setor, o movimento seria mais a tentativa de fortalecer o caixa da Cosan (uma das controladoras da Raízen) do que sinal de crise na Oxxo.
Outro movimento que pode impactar o segmento é uma possível venda da rede de supermercados Dia, também de venda de proximidade e que está em recuperação judicial, para o empresário Nelson Tanure, que estaria disposto a construir uma rede de porte nacional para concorrer com players já estabelecidos.
Hipermercados menores
A transação poderia movimentar cerca de R$ 1 bilhão, segundo fontes, mas o valor final ainda dependeria de avaliação a ser feita por uma consultoria independente.
Especialistas dizem que os hipermercados estão sendo gradualmente substituídos por supermercados (de tamanho médio), outra forma de ganhar capilaridade por meio de espaços menores. Maurício Morgado, coordenador do Centro de Excelência em Varejo da FGV, diz que os mercados também se tornaram convenientes, porque já não são tão grandes, passando a concorrer com os de menor porte.
Ainda assim, o consumidor que precisa comprar algum item de última hora quer fazer isso ao lado de casa, o que ajuda a explicar a popularização dos minimercados, que também incorporaram estacionamento e experiências gastronômicas, para saírem na frente na disputa pelo cliente.
— Tem um pedaço da conveniência que é atendido pelos mercados tradicionais, que encolheram. Ao mesmo tempo, alguns (minimercados) têm lojas de tamanho interessante, com estacionamento, então é possível fazer uma compra mais rápida assim como compras pouco maiores — destaca Morgado.
Para Marcos Gouvêa, presidente da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em varejo, embora a conveniência esteja em alta no Brasil, o consumidor está cada vez mais orientado a buscar o melhor valor nas compras. Normalmente, junto com a conveniência, os minimercados trazem preços mais elevados.
Ele conta que em países como Japão, Coreia, China e até mesmo nos Estados Unidos, as lojas de conveniência oferecem um diferencial de serviços, como o food service. E o mesmo vale para o Brasil.
— Essa parece ser a resposta que o consumidor quer. Acrescentar mais serviço para fugir apenas da comparação de preços — diz Gouvêa.
A Oxxo considera a estrutura de lojas otimizadas, com padarias e demais food services, além de área para consumo no local, uma das grandes vantagens do seu modelo de negócios. A empresa também trabalha ao lado da indústria para ter embalagens menores, adequadas ao espaço reduzido dos estabelecimentos, como um diferencial.
Uso de dados é central
Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores, diz que empresas de lojas de conveniência, como a Oxxo, dependem “de espalhamento”, de ter uma filial a cada esquina para reduzir o custo de abastecer as prateleiras quase diariamente.
Tanto ela quanto Gouvêa avaliam que a possível venda da fatia da Raízen na Oxxo está condicionada à redução do endividamento da Cosan, e não ligada ao desempenho da rede de lojas de conveniência que está apenas iniciando sua operação no país, com espaço para crescer. Bem-sucedida no México e em outros países da América Latina, a Oxxo soma 21 mil lojas no total.
Para Ana Paula, após os minimercados de grandes empresas pressionarem o desempenho de padarias e mercadinhos, a inteligência de dados define quem permanece no mercado. Oferecer o mix certo para cada bairro e saber os horários de pico são essenciais, assim como ajustar sortimento e cobertura por loja, diz ela:
— O maior diferencial das grandes redes é que eles sabem trabalhar volumes de dados. É saber que às 17h os consumidores procuram determinado produto em tais lojas. Isso muda o jogo do varejo.
A Oxxo usa dados e ferramentas para selecionar os locais onde enxerga potencial de mercado, analisar sortimento de produtos e até o visual adequado a suas unidades.
No Carrefour, segundo Marco Alcolezi, diretor executivo de Operações nos formatos super, hiper e express, a tecnologia desempenha um papel crucial na otimização da experiência do cliente, com ênfase na praticidade e conveniência.
— A implementação de soluções tecnológicas, como sistemas de self-checkout, aplicativos para rastreamento de produtos, métodos de pagamento ágeis e até o uso de inteligência artificial para sugestões personalizadas, pode contribuir de forma significativa para alcançar esse objetivo.