Produção agrícola do DF foi afetada pelas altas temperaturas do período

A onda de calor sem precedentes decorrente de massa de ar quente tem causado temperaturas mais altas do que o normal e afetado a produção agrícola do Distrito Federal de forma intensa. As culturas mais atingidas têm sido grãos, como feijão, soja e milho, além de hortaliças, frutas e legumes. Especialista ouvido pelo Correio sinaliza que a produção de feijão foi a mais afetada no DF, seguido pela soja e hortaliças. Chuvas previstas para este fim de semana devem amenizar o impacto. No entanto, os preços finais dos produtos serão afetados devido ao prejuízo acumulado até o momento.

Segundo o engenheiro agrônomo e extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), Carlos Banci, 25% da produção de feijão no Distrito Federal já foi comprometida. “Essa cultura é bastante plantada no DF e, por ser um ciclo curto, tem sofrido muito com as mudanças climáticas. O calor foi muito excessivo e afetou as demais plantações”, ressaltou.

O produtor rural César Augusto Gelain planta feijão, soja e milho na Fazenda Larga, em Planaltina-DF, dando continuidade ao trabalho do pai, que começou a produzir o grão em 1998. Ele estima um prejuízo de cerca de

R$ 250 mil, neste ano, devido à seca e às fortes ondas de calor. “O impacto está sendo muito grande. O rombo financeiro vai ser de, no mínimo, R$ 2 mil por hectare. São 107 hectares ao todo. As condições climáticas geraram atraso no plantio. Inclusive, precisamos fazer replantio em algumas áreas”, contou.

O prejuízo financeiro e os investimentos extras que estão sendo feitos para conter os impactos causados pelo clima de verão impactar no preço dos produtos ao consumidor final. “A gente tenta se empenhar ao máximo para produzir mais, independentemente do preço que vamos vender. Mas, na situação que estamos, já está concretizado que teremos uma quebra de produção, precisamos que o preço comercial tenha valor agregado para compensar o prejuízo”, declarou César.

De acordo com César, devido ao calor, algumas áreas ficarão com estandes — como é chamada a quantidade de plantas por metro — muito baixos. “O ideal é 200 mil plantas sadias e bem desenvolvidas em um hectare para alcançar a produção que a gente almeja que é em torno de 50 ou 55 sacas por hectare. Com essa falta de chuva, o estande vai ser baixo e, com isso, vou ter que fazer mais investimento em nutrição, tentar trazer as plantas que sobraram mais bem nutridas possíveis”, destacou.

O agricultor explica ainda que, pelo fato do feijão ser muito sensível, ao se deparar com calor forte durante a florada, pode ser afetado de forma mais forte do que outras culturas. “Agora, é acompanhar, torcer para que as previsões melhorem, que não falte água. Já tive uma perda, se continuarem as ondas de calor e falta de água, vou ter outra quebra de produção, aí aumenta mais ainda o prejuízo”, salientou.

Para conter os danos, César está reforçando o trabalho de limpeza e nutrição do solo, além da eliminação de ervas daninhas para que não haja competição da água com o feijão. “As plantas que sofreram o estresse precisam se restabelecer para continuar aguentando o calor, que deve continuar até o fim do ano”, pontuou.

O trabalho de contenção de pragas é feito por meio de um procedimento denominado pulverização agrícola, que é uma ação facilitadora para aplicação de produtos de controle de pragas, além de defensivos e fertilizantes. “É também um desafio, porque não dá para fazer a pulverização em horários muito quentes, senão perde-se por evaporação”, explicou.

Uma das pragas que se instalaram na lavoura de César é a lagarta do elasmo, que entra dentro do caule e vai degradando até matar a planta. “Agora, com falta de chuva e estresse hídrico não conseguimos fazer aplicação, não tem o que fazer. A gente tem que aguardar chover para entrar tentando fazer algum controle, porém é muito difícil depois que a praga já está instalada”, lamentou.

César geralmente planta milho na safrinha, que é o cultivo realizado logo após a safra. Mas, devido ao impacto gerado pelo calor, houve uma quebra de produtividade e, consequentemente, a produção de milho será menor para o próximo ano. Além disso, também haverá um atraso, pois a safrinha só pode ser plantada após a colheita do feijão.

Joceilson Alves de Sousa, produtor de hortaliças e plantas medicinais no Núcleo Taquara, em Planaltina, também teve seu cultivo prejudicado pelo forte calor. “Precisamos fazer replantio. Com o sol e a escassez de umidade, plantas pequenas não suportam mesmo com sistema de irrigação artificial”, disse.

Além de hortaliças, Joceilson produz pimentão, abobrinha, tomate, jiló, maxixe, banana, maracujá e plantas medicinais. “Tivemos muita dificuldade no plantio das mudas novas e também para manter as plantas adultas em um bom vigor. A produção caiu bastante”, reiterou.

O produtor citou ainda o fator humano como um dos mais impactados com o calor intenso. “Estava tão quente que não tinha como exigir aos colaboradores ficarem no sol. A mão de obra ficou paralisada por conta disso. O sol intenso gerou a necessidade de irrigação extra, trabalho extra. No geral, os produtores têm sofrido bastante. Apliquei um horário flexível na minha propriedade. O trabalho vai até 11h e só volta após as 15h”, esclareceu.

Aproximadamente 60% da área da soja, produção de maior volume no DF, já foi plantada. “A maioria germinou, mas os produtores estão sofrendo com relação à seca e calor. Está tendo injúria por causa do clima e isso está afetando a produtividade. Em alguns lugares, como Tabatinga e Rio Preto, vai haver necessidade de fazer replantio”, afirmou o engenheiro agrônomo Carlos Banci. “A situação é de apreensão, falta ainda plantar 40% da soja. Vai ser plantado fora da janela ideal de plantio, portanto muito tarde. O período correto é de 15 de outubro a 15 de novembro. Passou desta data, começa a ter problema”, concluiu.

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