O diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, tentou explicar o prejuízo de R$ 2,6 bilhões da empresa no segundo trimestre, mas seus argumentos não atenuam o efeito político muito ruim desse resultado. Afinal é o primeiro prejuízo depois do terceiro trimestre de 2020 quando o país e o mundo viviam o impacto da pandemia da Covid-19.
Mas vamos aos argumentos de Melgarejo.
Primeiro ele disse que o resultado não seria tão ruim porque há indicadores bons, como o Ebitda – ou seja, o resultado operacional da empresa – que está em linha com o primeiro trimestre. O fluxo de caixa operacional recorrente seria, inclusive, está ligeiramente superior ao do período passado, informou o diretor. E acrescentou que dívida é menor do que US$ 65 bilhões e que vai ter a distribuição de dividendos ordinário.
Eu quis saber como a empresa vai distribuir dividendos se teve prejuízo no trimestre. E ele respondeu o seguinte:
— É porque aqui na Petrobras, o dividendo é calculado em cima do fluxo de caixa livre, que é o fluxo operacional menos os investimentos realizados no período. Em cima disso, a gente atribui um percentual de 45%. Desses 45%, a gente tem o lucro a ser distribuído e ele, de fato, não conversa diretamente com o resultado. No passado, a gente criou uma reserva de remuneração de capital para pagar essa diferença. E temos, como eu te falei, o resultado acumulado dos sinais positivos.
Melgarejo está explicando o resultado negativo como efeito de dois fatores. O primeiro é o acordo com o Carf, que envolvia uma disputa de R$ 45 bilhões. Quer dizer, a Receita estava cobrando essa dívida. O acordo foi fechado por menos da metade do valor, R$ 19,8 bilhões, uma parte disso será pago com créditos tributários, e ao todo serão seis parcelas mensais. Segundo o diretor financeiro, esse acordo teve um impacto no lucro líquido de US$ 2,1 bilhões e no caixa, de US$ 700 milhões. O segundo fator é o dólar, o real se desvalorizou 11,2% frente a moeda americana no segundo trimestre. A Petrobras destacou perdas financeiras de R$ 36,4 bilhões por conta da variação cambial.
Na conversa, o diretor fez um cálculo que não faz muito sentido e que é assim: se não fossem esses dois fatores, o acordo e a desvalorização cambial, o resultado seria positivo. Então eu perguntei por que não ocorreu à empresa aumentar o preço dos combustíveis, dado que o dólar estava mais alto?
Fernando Melgarejo respondeu o seguinte: “A gente fez um ajuste, foi dia 15 de julho, usando uma metodologia que nós usamos aqui. Seguimos integralmente aqui a governança disso”. O aumento foi de 7,1% da gasolina e 9,8% do gás de cozinha.
Qual é o problema? Hoje já não se conhece essa metodologia de reajuste de preços da companhia. Perdeu-se transparência depois que acabou a política de paridade com o preço internacional. O governo Lula prometeu “abrasileirar” os preços. E nesse teste a política foi reprovada.
Não se pode atribuir tudo à nova administração que acabou de chegar. Mas o fato é que a maior empresa do país, a maior estatal, que ficou no meio de disputas políticas internas no governo, e que foi alvo de interferência, acabou dando prejuízo no trimestre. E isso lembra muito outros prejuízos no passado da gestão petista.
O mercado fica satisfeito porque haverá distribuição de dividendos, mas o fato é que ninguém esperava um resultado tão ruim. Em geral, nas conversas que Ana Carolina Diniz, aqui do blog, teve com especialistas antes da divulgação, a expectativa era de queda do lucro, mas não de prejuízo.