Empresas que nasceram virtuais na pandemia estão migrando para o espaço físico

O e-commerce tem registrado um crescimento acelerado nos últimos anos, impulsionado pela praticidade de acesso e pela conveniência de realizar compras a qualquer hora e lugar. No entanto, um movimento tem ganhado força: marcas originalmente digitais estão se expandindo para o mundo físico.

Essa tendência é global. Segundo uma pesquisa do Shopify, baseada em dados da National Retail Federation (a associação de varejo dos Estados Unidos), os shoppings estão recuperando espaço no pós-pandemia, atraindo consumidores da Geração Z, que buscam conectar as experiências on-line às do mundo real. O estudo revela que 80% do volume de vendas no varejo global ocorre no ambiente físico.

As lojas físicas proporcionam uma experiência de compra mais completa, permitindo que os consumidores interajam diretamente com os produtos recebam um atendimento mais personalizado. Além disso, esses espaços funcionam como uma ferramenta de fortalecimento da marca, criando ambientes imersivos que refletem a essência do negócio e estabelecem conexões mais profundas com o público.

Dados da empresa de pesquisa de mercado CX Trends apontam que cerca de 62% dos consumidores acham que as empresas poderiam fazer um trabalho melhor adaptando suas experiências. Eles querem que as empresas entendam suas necessidades e preferências e adaptem a experiência de compra a essas necessidades.

Para o fundador e presidente da Cherto Consultoria e um dos pioneiros do franchising no Brasil, Marcelo Cherto, muitos consumidores ainda preferem ver, tocar e experimentar os produtos antes de comprar. “Isso faz com que a loja física tenha uma preferência, pois ela permite essa interação, o que tende a aumentar a confiança do consumidor ao fazer uma compra”, disse. “Dependendo da sua experiência, essa compra pode até ser repetida pelo canal digital, quando se tratar do mesmo produto, ou de um produto basicamente igual”, ressaltou.

Uma segunda vantagem, de acordo com Cherto, é o fortalecimento da marca. “A presença física num shopping ou numa rua de comércio tende a reforçar a visibilidade e a credibilidade da marca, criando maior consciência e, portanto, maior confiança entre os consumidores. Cada loja funciona como uma espécie de outdoor vivo, além de funcionar como um espaço de experiência”, explicou.

Pesquisa feita pelo Conselho Internacional de Shopping Centers (ISC, na sigla em inglês), do Canadá, aponta que a abertura de uma nova loja física leva a um aumento médio de 37% no tráfego geral no website da marca. Segundo o administrador e consultor financeiro Jamberly Mattos, o varejo precisa aderir ao chamado OmniChanel, que significa chegar ao consumidor por todos os canais possíveis. “A empresa tem que ter a loja físicas, o e-commerce, o delivery, o take-out (Pague e Retire). Alguns supermercados aqui no Brasil já têm as chamadas DarkStores, ou seja, lojas para atender delivery e retiradas”, explicou.

“Por outro lado, o que foi percebido no pós-pandemia e com a Geração Z, é que as pessoas gostam da experiência, ou seja, muitas vezes elas vão nas lojas físicas para experimentar, conhecer o produto e, depois, até mesmo compram pelo canal on-line. Muitos lojistas relataram que o consumidor vai à loja e compra um produto que será entregue em casa. Ele foi atendido pela loja até o momento de finalizar a compra. Depois, ele já está sendo atendido pelo canal e-commerce”, comentou Mattos.

Já para o economista, especialista em reestruturação financeira de empresas, Luís Alberto de Paiva, o mercado não encontra limites para testar novos e velhos modelos de negócio.”Outra vertente das relações de consumo parece tentar se posicionar de maneira contrária, levando a experiência e o contato direto entre fabricante e consumidor de maneira mais calorosa e direta na comunicação, (Experience Store), trazendo a geração Z para lojas físicas”, pontuou.

“Nessa relação, o consumidor deixa o consumo através de mídias sociais e passa a consumir neste espaço de experiência. As operações on-line funcionam sempre como fidelização de produtos expostos fisicamente. O grande problema é que as lojas físicas demonstram e as lojas on-line vendem”, completou Paiva.

Exemplos recentes dessa migração incluem o Magazine Luiza, conhecido pelo seu e-commerce robusto, que recentemente anunciou a abertura de uma megaloja na Avenida Paulista, e o Enjoei, plataforma nativa digital que inaugurou três lojas físicas em 2024 com planos de expansão. Outro exemplo é o Grupo Petlove, que também investiu em lojas físicas para complementar sua operação digital.

Outra empresária que fez essa migração foi a Marianna Bezerra, fundadora da L’Avière Joias. Segundo ela, o digital foi a solução inicial para empreender durante a pandemia, enquanto trabalhava como enfermeira em UTIs. Começou vendendo joias para colegas e logo expandiu para as redes sociais. “O ambiente on-line oferecia segurança e alcance. Mas, com o crescimento das vendas, percebi que a loja física seria um diferencial para proporcionar uma experiência sensorial aos clientes”, contou.

A transição para o físico não foi fácil. Mariana enfrentou desafios como reformas e a escolha do ponto ideal. Ainda assim, a loja física se tornou um espaço para fortalecer a relação com os clientes e reforçar a essência da marca. “Hoje, tanto o on-line quanto o físico se complementam. Enquanto o digital amplia nosso alcance, o físico cria conexões mais próximas e fortalece nossa credibilidade”, afirmou.

“A principal diferença foi entender que no ambiente físico a experiência do cliente é muito mais sensorial e imediata. No on-line, precisamos usar imagens e palavras para transmitir confiança e desejo. No físico, é a atmosfera da loja, o atendimento pessoal e o contato direto com as joias que encantam. A transição foi mais fácil porque mantive meu foco na essência da marca e na relação com os clientes, seja no digital ou no presencial”, ressaltou.

A Uso Assim, uma marca pernambucana criada em 2016 por Álvaro Roberto e Laís, começou sua jornada exclusivamente on-line. “Não tínhamos recursos para abrir uma loja física na época. O digital era mais acessível e nos permitia vender sem os altos custos de um ponto comercial”, relembrou Álvaro. O Instagram e o site foram as plataformas escolhidas para dar os primeiros passos. No entanto, à medida que a marca crescia, surgiu a demanda pelo físico. O casal começou participando de feiras e eventos e logo percebeu a necessidade de expandir.

“Ao abrir nosso primeiro espaço colaborativo, foi um processo difícil. No primeiro dia, quase ninguém apareceu, mas aos poucos construímos uma base de clientes”, contou Álvaro. Em 2019, a marca inaugurou sua loja exclusiva em Recife, que permanece até hoje como um importante complemento ao negócio on-line. “A loja física permite que os clientes provem as roupas, tenham uma experiência sensorial e fortaleçam a conexão com a marca. Apesar de o site ainda ser nosso principal canal de vendas, a presença física agrega valor ao posicionamento da marca e diversifica nossas fontes de receita.”

Outra história marcante é a da ABÊ Sunglasses, marca de óculos fundada por Augusto Braz. A empresa nasceu durante a pandemia, quando Braz vendia os óculos diretamente de sua casa. “O digital democratizou o empreendedorismo. Comecei com um investimento baixo e consegui divulgar a marca pelas redes sociais. Mas percebi que meu produto exigia experimentação, algo que o on-line não oferecia”, conta.

A transição para o físico ocorreu de forma gradual, com participações em feiras e eventos. Quando decidiu abrir um espaço físico, Augusto viu sua marca ganhar ainda mais credibilidade. “Foi um divisor de águas. A loja agregou valor ao produto, proporcionou uma experiência mais completa e nos permitiu expandir para armações de grau, algo que seria difícil no ambiente digital.” Segundo ele, o espaço físico também oferece uma vantagem competitiva. “No on-line, concorro com grandes players que praticam preços baixos. No físico, consigo justificar preços mais altos ao agregar experiência e atendimento personalizado.”

No setor de moda, a NIINI, de Carol Celico, também seguiu esse caminho. A marca nasceu no digital. Carol aproveitou sua experiência com redes sociais para criar um e-commerce de sucesso. Após um ano operando exclusivamente on-line, decidiu abrir lojas físicas.

“O físico permite inserir o cliente no universo da marca. Nossa loja é projetada para estimular todos os sentidos, desde o toque dos tecidos até uma fragrância exclusiva”, explicou Carol. Hoje, a NIINI possui duas lojas em São Paulo, que ajudaram a fidelizar clientes e fortalecer o branding. “A experiência física impulsionou tanto as vendas quanto a comunicação da marca, apresentando a NIINI como um verdadeiro lifestyle.”

Janayna Rosa Gonçalves, fundadora da Jana Rosa Cosmetics, também encontrou no físico uma forma de melhorar o atendimento e oferecer um diferencial. “Minha empresa começou no digital por necessidade. Trabalhando fora, não tinha tempo para atendimento presencial. Mas percebi que queria criar um espaço onde as clientes se sentissem confortáveis e bem atendidas”, relembrou Janayna.

Abrir a loja física foi desafiador, especialmente para educar os clientes sobre a importância de agendamentos e atendimento personalizado. “No início, o faturamento caiu porque não estávamos alimentando o site como antes. Mas, com o tempo, as clientes se adaptaram, e hoje quase não temos horários disponíveis para o presencial”, comemorou.

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Empresas que nasceram virtuais na pandemia estão migrando para o espaço físico

O e-commerce tem registrado um crescimento acelerado nos últimos anos, impulsionado pela praticidade de acesso e pela conveniência de realizar compras a qualquer hora e lugar. No entanto, um movimento tem ganhado força: marcas originalmente digitais estão se expandindo para o mundo físico.

Essa tendência é global. Segundo uma pesquisa do Shopify, baseada em dados da National Retail Federation (a associação de varejo dos Estados Unidos), os shoppings estão recuperando espaço no pós-pandemia, atraindo consumidores da Geração Z, que buscam conectar as experiências on-line às do mundo real. O estudo revela que 80% do volume de vendas no varejo global ocorre no ambiente físico.

As lojas físicas proporcionam uma experiência de compra mais completa, permitindo que os consumidores interajam diretamente com os produtos recebam um atendimento mais personalizado. Além disso, esses espaços funcionam como uma ferramenta de fortalecimento da marca, criando ambientes imersivos que refletem a essência do negócio e estabelecem conexões mais profundas com o público.

Dados da empresa de pesquisa de mercado CX Trends apontam que cerca de 62% dos consumidores acham que as empresas poderiam fazer um trabalho melhor adaptando suas experiências. Eles querem que as empresas entendam suas necessidades e preferências e adaptem a experiência de compra a essas necessidades.

Para o fundador e presidente da Cherto Consultoria e um dos pioneiros do franchising no Brasil, Marcelo Cherto, muitos consumidores ainda preferem ver, tocar e experimentar os produtos antes de comprar. “Isso faz com que a loja física tenha uma preferência, pois ela permite essa interação, o que tende a aumentar a confiança do consumidor ao fazer uma compra”, disse. “Dependendo da sua experiência, essa compra pode até ser repetida pelo canal digital, quando se tratar do mesmo produto, ou de um produto basicamente igual”, ressaltou.

Uma segunda vantagem, de acordo com Cherto, é o fortalecimento da marca. “A presença física num shopping ou numa rua de comércio tende a reforçar a visibilidade e a credibilidade da marca, criando maior consciência e, portanto, maior confiança entre os consumidores. Cada loja funciona como uma espécie de outdoor vivo, além de funcionar como um espaço de experiência”, explicou.

Pesquisa feita pelo Conselho Internacional de Shopping Centers (ISC, na sigla em inglês), do Canadá, aponta que a abertura de uma nova loja física leva a um aumento médio de 37% no tráfego geral no website da marca. Segundo o administrador e consultor financeiro Jamberly Mattos, o varejo precisa aderir ao chamado OmniChanel, que significa chegar ao consumidor por todos os canais possíveis. “A empresa tem que ter a loja físicas, o e-commerce, o delivery, o take-out (Pague e Retire). Alguns supermercados aqui no Brasil já têm as chamadas DarkStores, ou seja, lojas para atender delivery e retiradas”, explicou.

“Por outro lado, o que foi percebido no pós-pandemia e com a Geração Z, é que as pessoas gostam da experiência, ou seja, muitas vezes elas vão nas lojas físicas para experimentar, conhecer o produto e, depois, até mesmo compram pelo canal on-line. Muitos lojistas relataram que o consumidor vai à loja e compra um produto que será entregue em casa. Ele foi atendido pela loja até o momento de finalizar a compra. Depois, ele já está sendo atendido pelo canal e-commerce”, comentou Mattos.

Já para o economista, especialista em reestruturação financeira de empresas, Luís Alberto de Paiva, o mercado não encontra limites para testar novos e velhos modelos de negócio.”Outra vertente das relações de consumo parece tentar se posicionar de maneira contrária, levando a experiência e o contato direto entre fabricante e consumidor de maneira mais calorosa e direta na comunicação, (Experience Store), trazendo a geração Z para lojas físicas”, pontuou.

“Nessa relação, o consumidor deixa o consumo através de mídias sociais e passa a consumir neste espaço de experiência. As operações on-line funcionam sempre como fidelização de produtos expostos fisicamente. O grande problema é que as lojas físicas demonstram e as lojas on-line vendem”, completou Paiva.

Exemplos recentes dessa migração incluem o Magazine Luiza, conhecido pelo seu e-commerce robusto, que recentemente anunciou a abertura de uma megaloja na Avenida Paulista, e o Enjoei, plataforma nativa digital que inaugurou três lojas físicas em 2024 com planos de expansão. Outro exemplo é o Grupo Petlove, que também investiu em lojas físicas para complementar sua operação digital.

Outra empresária que fez essa migração foi a Marianna Bezerra, fundadora da L’Avière Joias. Segundo ela, o digital foi a solução inicial para empreender durante a pandemia, enquanto trabalhava como enfermeira em UTIs. Começou vendendo joias para colegas e logo expandiu para as redes sociais. “O ambiente on-line oferecia segurança e alcance. Mas, com o crescimento das vendas, percebi que a loja física seria um diferencial para proporcionar uma experiência sensorial aos clientes”, contou.

A transição para o físico não foi fácil. Mariana enfrentou desafios como reformas e a escolha do ponto ideal. Ainda assim, a loja física se tornou um espaço para fortalecer a relação com os clientes e reforçar a essência da marca. “Hoje, tanto o on-line quanto o físico se complementam. Enquanto o digital amplia nosso alcance, o físico cria conexões mais próximas e fortalece nossa credibilidade”, afirmou.

“A principal diferença foi entender que no ambiente físico a experiência do cliente é muito mais sensorial e imediata. No on-line, precisamos usar imagens e palavras para transmitir confiança e desejo. No físico, é a atmosfera da loja, o atendimento pessoal e o contato direto com as joias que encantam. A transição foi mais fácil porque mantive meu foco na essência da marca e na relação com os clientes, seja no digital ou no presencial”, ressaltou.

A Uso Assim, uma marca pernambucana criada em 2016 por Álvaro Roberto e Laís, começou sua jornada exclusivamente on-line. “Não tínhamos recursos para abrir uma loja física na época. O digital era mais acessível e nos permitia vender sem os altos custos de um ponto comercial”, relembrou Álvaro. O Instagram e o site foram as plataformas escolhidas para dar os primeiros passos. No entanto, à medida que a marca crescia, surgiu a demanda pelo físico. O casal começou participando de feiras e eventos e logo percebeu a necessidade de expandir.

“Ao abrir nosso primeiro espaço colaborativo, foi um processo difícil. No primeiro dia, quase ninguém apareceu, mas aos poucos construímos uma base de clientes”, contou Álvaro. Em 2019, a marca inaugurou sua loja exclusiva em Recife, que permanece até hoje como um importante complemento ao negócio on-line. “A loja física permite que os clientes provem as roupas, tenham uma experiência sensorial e fortaleçam a conexão com a marca. Apesar de o site ainda ser nosso principal canal de vendas, a presença física agrega valor ao posicionamento da marca e diversifica nossas fontes de receita.”

Outra história marcante é a da ABÊ Sunglasses, marca de óculos fundada por Augusto Braz. A empresa nasceu durante a pandemia, quando Braz vendia os óculos diretamente de sua casa. “O digital democratizou o empreendedorismo. Comecei com um investimento baixo e consegui divulgar a marca pelas redes sociais. Mas percebi que meu produto exigia experimentação, algo que o on-line não oferecia”, conta.

A transição para o físico ocorreu de forma gradual, com participações em feiras e eventos. Quando decidiu abrir um espaço físico, Augusto viu sua marca ganhar ainda mais credibilidade. “Foi um divisor de águas. A loja agregou valor ao produto, proporcionou uma experiência mais completa e nos permitiu expandir para armações de grau, algo que seria difícil no ambiente digital.” Segundo ele, o espaço físico também oferece uma vantagem competitiva. “No on-line, concorro com grandes players que praticam preços baixos. No físico, consigo justificar preços mais altos ao agregar experiência e atendimento personalizado.”

No setor de moda, a NIINI, de Carol Celico, também seguiu esse caminho. A marca nasceu no digital. Carol aproveitou sua experiência com redes sociais para criar um e-commerce de sucesso. Após um ano operando exclusivamente on-line, decidiu abrir lojas físicas.

“O físico permite inserir o cliente no universo da marca. Nossa loja é projetada para estimular todos os sentidos, desde o toque dos tecidos até uma fragrância exclusiva”, explicou Carol. Hoje, a NIINI possui duas lojas em São Paulo, que ajudaram a fidelizar clientes e fortalecer o branding. “A experiência física impulsionou tanto as vendas quanto a comunicação da marca, apresentando a NIINI como um verdadeiro lifestyle.”

Janayna Rosa Gonçalves, fundadora da Jana Rosa Cosmetics, também encontrou no físico uma forma de melhorar o atendimento e oferecer um diferencial. “Minha empresa começou no digital por necessidade. Trabalhando fora, não tinha tempo para atendimento presencial. Mas percebi que queria criar um espaço onde as clientes se sentissem confortáveis e bem atendidas”, relembrou Janayna.

Abrir a loja física foi desafiador, especialmente para educar os clientes sobre a importância de agendamentos e atendimento personalizado. “No início, o faturamento caiu porque não estávamos alimentando o site como antes. Mas, com o tempo, as clientes se adaptaram, e hoje quase não temos horários disponíveis para o presencial”, comemorou.

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Empresas que nasceram virtuais na pandemia estão migrando para o espaço físico

O e-commerce tem registrado um crescimento acelerado nos últimos anos, impulsionado pela praticidade de acesso e pela conveniência de realizar compras a qualquer hora e lugar. No entanto, um movimento tem ganhado força: marcas originalmente digitais estão se expandindo para o mundo físico.

Essa tendência é global. Segundo uma pesquisa do Shopify, baseada em dados da National Retail Federation (a associação de varejo dos Estados Unidos), os shoppings estão recuperando espaço no pós-pandemia, atraindo consumidores da Geração Z, que buscam conectar as experiências on-line às do mundo real. O estudo revela que 80% do volume de vendas no varejo global ocorre no ambiente físico.

As lojas físicas proporcionam uma experiência de compra mais completa, permitindo que os consumidores interajam diretamente com os produtos recebam um atendimento mais personalizado. Além disso, esses espaços funcionam como uma ferramenta de fortalecimento da marca, criando ambientes imersivos que refletem a essência do negócio e estabelecem conexões mais profundas com o público.

Dados da empresa de pesquisa de mercado CX Trends apontam que cerca de 62% dos consumidores acham que as empresas poderiam fazer um trabalho melhor adaptando suas experiências. Eles querem que as empresas entendam suas necessidades e preferências e adaptem a experiência de compra a essas necessidades.

Para o fundador e presidente da Cherto Consultoria e um dos pioneiros do franchising no Brasil, Marcelo Cherto, muitos consumidores ainda preferem ver, tocar e experimentar os produtos antes de comprar. “Isso faz com que a loja física tenha uma preferência, pois ela permite essa interação, o que tende a aumentar a confiança do consumidor ao fazer uma compra”, disse. “Dependendo da sua experiência, essa compra pode até ser repetida pelo canal digital, quando se tratar do mesmo produto, ou de um produto basicamente igual”, ressaltou.

Uma segunda vantagem, de acordo com Cherto, é o fortalecimento da marca. “A presença física num shopping ou numa rua de comércio tende a reforçar a visibilidade e a credibilidade da marca, criando maior consciência e, portanto, maior confiança entre os consumidores. Cada loja funciona como uma espécie de outdoor vivo, além de funcionar como um espaço de experiência”, explicou.

Pesquisa feita pelo Conselho Internacional de Shopping Centers (ISC, na sigla em inglês), do Canadá, aponta que a abertura de uma nova loja física leva a um aumento médio de 37% no tráfego geral no website da marca. Segundo o administrador e consultor financeiro Jamberly Mattos, o varejo precisa aderir ao chamado OmniChanel, que significa chegar ao consumidor por todos os canais possíveis. “A empresa tem que ter a loja físicas, o e-commerce, o delivery, o take-out (Pague e Retire). Alguns supermercados aqui no Brasil já têm as chamadas DarkStores, ou seja, lojas para atender delivery e retiradas”, explicou.

“Por outro lado, o que foi percebido no pós-pandemia e com a Geração Z, é que as pessoas gostam da experiência, ou seja, muitas vezes elas vão nas lojas físicas para experimentar, conhecer o produto e, depois, até mesmo compram pelo canal on-line. Muitos lojistas relataram que o consumidor vai à loja e compra um produto que será entregue em casa. Ele foi atendido pela loja até o momento de finalizar a compra. Depois, ele já está sendo atendido pelo canal e-commerce”, comentou Mattos.

Já para o economista, especialista em reestruturação financeira de empresas, Luís Alberto de Paiva, o mercado não encontra limites para testar novos e velhos modelos de negócio.”Outra vertente das relações de consumo parece tentar se posicionar de maneira contrária, levando a experiência e o contato direto entre fabricante e consumidor de maneira mais calorosa e direta na comunicação, (Experience Store), trazendo a geração Z para lojas físicas”, pontuou.

“Nessa relação, o consumidor deixa o consumo através de mídias sociais e passa a consumir neste espaço de experiência. As operações on-line funcionam sempre como fidelização de produtos expostos fisicamente. O grande problema é que as lojas físicas demonstram e as lojas on-line vendem”, completou Paiva.

Exemplos recentes dessa migração incluem o Magazine Luiza, conhecido pelo seu e-commerce robusto, que recentemente anunciou a abertura de uma megaloja na Avenida Paulista, e o Enjoei, plataforma nativa digital que inaugurou três lojas físicas em 2024 com planos de expansão. Outro exemplo é o Grupo Petlove, que também investiu em lojas físicas para complementar sua operação digital.

Outra empresária que fez essa migração foi a Marianna Bezerra, fundadora da L’Avière Joias. Segundo ela, o digital foi a solução inicial para empreender durante a pandemia, enquanto trabalhava como enfermeira em UTIs. Começou vendendo joias para colegas e logo expandiu para as redes sociais. “O ambiente on-line oferecia segurança e alcance. Mas, com o crescimento das vendas, percebi que a loja física seria um diferencial para proporcionar uma experiência sensorial aos clientes”, contou.

A transição para o físico não foi fácil. Mariana enfrentou desafios como reformas e a escolha do ponto ideal. Ainda assim, a loja física se tornou um espaço para fortalecer a relação com os clientes e reforçar a essência da marca. “Hoje, tanto o on-line quanto o físico se complementam. Enquanto o digital amplia nosso alcance, o físico cria conexões mais próximas e fortalece nossa credibilidade”, afirmou.

“A principal diferença foi entender que no ambiente físico a experiência do cliente é muito mais sensorial e imediata. No on-line, precisamos usar imagens e palavras para transmitir confiança e desejo. No físico, é a atmosfera da loja, o atendimento pessoal e o contato direto com as joias que encantam. A transição foi mais fácil porque mantive meu foco na essência da marca e na relação com os clientes, seja no digital ou no presencial”, ressaltou.

A Uso Assim, uma marca pernambucana criada em 2016 por Álvaro Roberto e Laís, começou sua jornada exclusivamente on-line. “Não tínhamos recursos para abrir uma loja física na época. O digital era mais acessível e nos permitia vender sem os altos custos de um ponto comercial”, relembrou Álvaro. O Instagram e o site foram as plataformas escolhidas para dar os primeiros passos. No entanto, à medida que a marca crescia, surgiu a demanda pelo físico. O casal começou participando de feiras e eventos e logo percebeu a necessidade de expandir.

“Ao abrir nosso primeiro espaço colaborativo, foi um processo difícil. No primeiro dia, quase ninguém apareceu, mas aos poucos construímos uma base de clientes”, contou Álvaro. Em 2019, a marca inaugurou sua loja exclusiva em Recife, que permanece até hoje como um importante complemento ao negócio on-line. “A loja física permite que os clientes provem as roupas, tenham uma experiência sensorial e fortaleçam a conexão com a marca. Apesar de o site ainda ser nosso principal canal de vendas, a presença física agrega valor ao posicionamento da marca e diversifica nossas fontes de receita.”

Outra história marcante é a da ABÊ Sunglasses, marca de óculos fundada por Augusto Braz. A empresa nasceu durante a pandemia, quando Braz vendia os óculos diretamente de sua casa. “O digital democratizou o empreendedorismo. Comecei com um investimento baixo e consegui divulgar a marca pelas redes sociais. Mas percebi que meu produto exigia experimentação, algo que o on-line não oferecia”, conta.

A transição para o físico ocorreu de forma gradual, com participações em feiras e eventos. Quando decidiu abrir um espaço físico, Augusto viu sua marca ganhar ainda mais credibilidade. “Foi um divisor de águas. A loja agregou valor ao produto, proporcionou uma experiência mais completa e nos permitiu expandir para armações de grau, algo que seria difícil no ambiente digital.” Segundo ele, o espaço físico também oferece uma vantagem competitiva. “No on-line, concorro com grandes players que praticam preços baixos. No físico, consigo justificar preços mais altos ao agregar experiência e atendimento personalizado.”

No setor de moda, a NIINI, de Carol Celico, também seguiu esse caminho. A marca nasceu no digital. Carol aproveitou sua experiência com redes sociais para criar um e-commerce de sucesso. Após um ano operando exclusivamente on-line, decidiu abrir lojas físicas.

“O físico permite inserir o cliente no universo da marca. Nossa loja é projetada para estimular todos os sentidos, desde o toque dos tecidos até uma fragrância exclusiva”, explicou Carol. Hoje, a NIINI possui duas lojas em São Paulo, que ajudaram a fidelizar clientes e fortalecer o branding. “A experiência física impulsionou tanto as vendas quanto a comunicação da marca, apresentando a NIINI como um verdadeiro lifestyle.”

Janayna Rosa Gonçalves, fundadora da Jana Rosa Cosmetics, também encontrou no físico uma forma de melhorar o atendimento e oferecer um diferencial. “Minha empresa começou no digital por necessidade. Trabalhando fora, não tinha tempo para atendimento presencial. Mas percebi que queria criar um espaço onde as clientes se sentissem confortáveis e bem atendidas”, relembrou Janayna.

Abrir a loja física foi desafiador, especialmente para educar os clientes sobre a importância de agendamentos e atendimento personalizado. “No início, o faturamento caiu porque não estávamos alimentando o site como antes. Mas, com o tempo, as clientes se adaptaram, e hoje quase não temos horários disponíveis para o presencial”, comemorou.

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A crise de dólares ‘à la Argentina’ que leva a disparada de preços na Bolívia

Apesar de ser um dos países mais pobres da América do Sul, a Bolívia conseguiu controlar a alta dos preços dos alimentos mediante políticas públicas implantadas nos últimos 15 anos que visavam abastecer o mercado interno e romper com o ciclo inflacionário que atinge diversos países da América Latina.

Agora, contudo, o alto déficit na balança comercial, semelhante ao que a Argentina passa há anos, faz com que o país atravesse uma crise que torna escasso os dólares na economia boliviana.

Isso impacta a inflação, cujo índice anual chegou a 5,5% em setembro — patamar elevado para os padrões bolivianos e que já desperta irritação na população local, em meio a disputas políticas no governo.

Este foi o maior nível desde 2013, quando a inflação teve um pico de 6,48% no acumulado anual.

Desde 2015, a Bolívia acumula seguidos déficits fiscais. A situação, contudo, piorou desde 2023, com a queda do volume de gás vendido para fora do país. Esse é o principal item de exportação do país.

Por isso, desde o ano passado, o país precisou recorrer às reservas internacionais para subsidiar o preço dos combustíveis, que é importado.

Os subsídios, que vão dos alimentos às empresas que importam diesel e gasolina, e custam cerca de US$ 4 bilhões por ano, passaram a pesar na conta — com o governo gastando mais do que arrecada.

“Trata-se de déficits fiscais de uma média de 8% do PIB [Produto Interno Bruto], uma queda nas receitas fiscais e, obviamente, nas reservas do Banco Central, que foram queimadas e se tornaram um dos mais importantes financiadores do governo”, afirma o economista Jaime Dunn De Avila, mestre em administração de empresas pela Universidade Católica Boliviana.

Tentando manter seu programa social e econômico, o governo de Luis Arce passou a utilizar as reservas oficiais de dólar. Com isso, houve baixa das reservas, que passaram de US$ 15 bilhões em 2015 para US$ 1,9 bilhão agora.

Desde o ano passado, o governo também restringiu saques na moeda estrangeira e compras no cartão de crédito, buscando segurar mais divisas em solo boliviano.

Mesmo assim, com as reservas baixas, o país não consegue mais controlar a variação da moeda americana, que disparou no mercado paralelo.

“As reservas internacionais bolivianas se reduziram para algo próximo ao nível do colapso”, completa o economista.

“Ficou mais difícil para o país importar até produtos essenciais, como alimentos e remédios, com a consequente falta de mercadorias e aumento de preços.”

‘Os preços sobem muito e o nosso salário é muito baixo’, diz Maria de Lourdes, que vende produtos alimentícios nas ruas de La Paz

A população sofre com a escassez de combustíveis, principalmente do diesel. Há também filas para conseguir alimentos básicos subsidiados, como arroz e farelo de trigo.

Além disso, tensões políticas entre Luís Arce e o ex-presidente Evo Morales, ex-aliados que disputam o controle do partido no Movimento ao Socialismo (MAS) e a possibilidade de disputar as eleições no ano que vem, afastaram investidores estrangeiros.

Pelas ruas de La Paz, comerciantes buscam dólares e anunciam a compra da moeda americana.

“Preciso de dólares para importar mercadorias e, também, porque não confio mais no governo”, diz o comerciante José Ignacio.

“Por isso, para me proteger, vou guardar dólares por aqui antes que os preços disparem como na Argentina.”

Alex Nery, professor de economia da FIA Business School, explica que a escassez de reservas cambiais, que agora ocorre na Bolívia, permanece como um dos grandes desafios da economia argentina.

“A falta de reservas dificulta a defesa da taxa de câmbio em momentos de crise e aumenta a desconfiança dos agentes de mercado internos e externos em relação à moeda local”, diz Nery.

“[Na Argentina] a desvalorização do peso tem impacto direto na inflação, pois aumenta os custos de insumos importados e eleva os preços de bens de consumo, especialmente em uma economia que depende de importações”, completa.

Inflação em alta

Preços de alimentos básicos são tabelados pelo governo

Os desajustes macroeconômicos já se refletem na vida da população da Bolívia.

A Bolívia historicamente tem uma inflação mais baixa do que outros países da América Latina, onde a alta dos preços é um problema frequente.

Nos últimos quatro anos, de 2020 a 2023, o país teve uma alta acumulada de 6% no índice oficial de preços. No Brasil, o aumento foi de cerca de 25% no mesmo período.

Maria de Lourdes, que vende produtos alimentícios nas ruas da capital boliviana, reclama da alta dos preços durante o governo de Luis Arce.

Por isso, ela toma lado na disputa política no MAS e afirma que apenas o retorno de Evo Morales ao poder poderia fazer com que o país retome o caminho do crescimento e o controle dos preços.

“Os preços sobem muito, e o nosso salário é muito baixo. Espero que Evo volte, para que nossa vida volte a melhorar como na época dele”, diz.

Para Alexis Dantas, professor de ciências econômicas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o país poderia optar por iniciar um controle cambial mais rígido para conter a alta da moeda e seus efeitos negativos.

“O mais razoável, para o país, seria o controle cambial, à medida que os exportadores não podem fazer outra coisa se não exportar, sobretudo na questão mineral, e assim você consegue controlar o curto prazo e pode relaxar essas medidas ao longo do tempo”, diz.

“Mas há uma pressão forte do sistema financeiro”, reconhece.

Já para Jaime Dunn De Ávila, o problema é justamente o excesso de controle sobre a economia do país.

“A crise cambial na Bolívia é, na verdade, resultado de um problema real, que começou a ser criado aos poucos desde 2014, quando as receitas das exportações de gás para a Argentina e o Brasil significaram mais de US$ 5 bilhões para o governo boliviano”, diz.

“Mas isso acabou, e o governo manteve as despesas crescentes, enquanto as receitas diminuíram, o que nos conduz claramente a uma crise.”

O presidente Luis Arce admite a crise de dólares, mas vem negando o impacto econômico na vida cotidiana do boliviano.

“Como vários países, temos certas dificuldades na disponibilidade do dólar, mas não estamos numa crise econômica estrutural como a oposição pretende posicionar-se para gerar uma crise política e encurtar o nosso mandato”, disse Arce durante discurso neste ano.

O ministro da Economia e Finanças, Marcelo Montenegro, afirmou à rede France 24 que “haverá um aumento de divisas” na economia com as exportações agrícolas que foram atrasadas devido aos problemas climáticos.

Plano de alimentação

Bolivianos fazem fila em frente a unidade da Emapa na cidade de Copacabana, na fronteira com o Peru

Parte do sucesso de um período não muito distante no controle de preços e no abastecimento do mercado interno veio com a fundação da Empresa de Apoio à Produção Alimentar (Emapa) e do Fundo Rotativo de Segurança Alimentar.

Essas entidades importam alimentos usando recursos públicos e fomentam o pequeno produtor que não cultiva commodities para exportação. Depois, fazem a distribuição desses itens em mercados estatais, para manter os preços.

A Emapa, criada em agosto de 2007, é um órgão estatal que tem por objetivo assegurar a “segurança alimentar com soberania”.

Na prática, a empresa compra de produtores locais, mantendo um nível de demanda constante, o que fomenta a produção de alimentos não voltados à exportação, como a soja, e vende em supermercados próprios, com preços subsidiados aos moradores.

“O ex-presidente Evo Morales e o atual, Luis Arce, combinaram uma série de medidas que mesclaram liberalismo e desenvolvimentismo, como zerar tarifas para a importação de alguns tipos de alimentos e criar uma empresa pública, a Emapa”, diz Maurício Santoro, doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iuperj).

“Essas decisões foram tomadas no contexto de um pico inflacionário de alimentos e de muitos conflitos sociais e políticos na Bolívia, no fim da década de 2000.”

Turistas são autorizados a comprar nesses supermercados, que restringem apenas os produtos básicos e subsidiados pelo governo, como o arroz e farelo de trigo.

“Os turistas vêm sempre aqui dar uma olhada e comprar produtos. Alguns se interessam pelos baixos preços, mas sempre explico que somente pessoas cadastradas podem comprar alguns itens”, afirma à BBC News Brasil Carla Santí, que trabalha como caixa na unidade localizada na cidade boliviana de Copacabana, próximo da fronteira com o Peru.

Além da Emapa, há ainda o Fundo Rotativo de Segurança Alimentar, que importa alimentos usando para isso recursos públicos e distribui nesses mercados para manter os preços baixos.

Logo após a pandemia, por exemplo, a BBC News Brasil reportou que o fundo injetou 10 mil toneladas de farinha de trigo no mercado para evitar o aumento do preço do pão.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tentou fazer algo parecido com o arroz à época das inundações no Rio Grande do Sul, mas não conseguiu por problemas em leilões para comprar arroz de produtores internacionais.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo não faria outros certames dado que o preço do arroz já estava de volta aos patamares anteriores à tragédia climática.

Outro pilar importante dentro do controle da inflação dos alimentos na Bolívia é o preço dos combustíveis, responsáveis pelo transporte da produção à mesa do consumidor.

Por lá, o abastecimento é considerado como serviço público e o Estado mantém o controle da produção, subsidiando os preços à população local.

As medidas fazem efeito. Se entre 2010 e 2015, o preço dos alimentos subiu cerca de 55%, nos últimos cinco anos a alta foi de somente 10% no acumulado, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística da Bolívia (INE) — mesmo com a pandemia de covid-19, que fez com que os preços dos alimentos subissem no mundo.

O controle de preços praticado pelo governo boliviano, contudo, se difere do congelamento de preços praticados no Brasil durante o governo de José Sarney, ou pelo governo argentino em diversos períodos da história.

Segundo explica Alex Nery, essas experiências anteriores no Brasil e na Argentina impuseram um teto para os preços de alguns bens e serviços — somente isso, sem uma abordagem mais complexa.

“Este método tenta conter a inflação diretamente, mas tem se mostrado ineficaz ao longo da história porque ele não combate a causa da inflação, mas apenas uma de suas consequências, que é o aumento generalizado nos preços”, diz o professor da FIA Business School.

“Quando adotado, frequentemente provoca escassez de oferta, na medida em que desestimula a produção ou importação dos bens cujos preços foram congelados ao reduzir a rentabilidade dos produtores.”

Nery afirma que a prática boliviana recente é diferente, pois vem acompanhada de políticas para aumentar a oferta dos itens no mercado e para manter a competição.

Ele cita o Fundo Rotativo de Segurança Alimentar.

“Há exemplo do uso desse fundo para importar toneladas de farinha de trigo com o objetivo de manter estável o preço do pão. A diferença entre as duas situações é que, no caso do Brasil [no governo Sarney], trata-se de uma medida pontual para tratar de uma crise de abastecimento momentânea, enquanto no caso da Bolívia há uma política permanente que objetiva combater a inflação”, afirma.

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Atlético: Pai de Hulk reage à demissão do técnico Gabriel Milito no Instagram

O Atlético anunciou a demissão do técnico Gabriel Milito após a derrota por 2 a 0 para o Vasco, na noite desta quarta-feira (4), pelo Campeonato Brasileiro. A decisão, comunicada logo após a partida, gerou reações, inclusive de pessoas próximas ao elenco.

O pai do atacante Hulk, Gilvan Vieira de Sousa, celebrou a saída do treinador nas redes sociais. Ele comentou um post do perfil “Fala Massa”, que informava sobre a demissão, utilizando emojis de palmas e preces.

De acordo com o diretor de futebol do clube, a saída de Milito aconteceu após um diálogo entre as partes. Segundo ele, técnico e diretoria chegaram a um consenso sobre o encerramento do vínculo.

Milito enfrentava forte pressão. Apesar de ter levado o Atlético às finais da Copa do Brasil e da Libertadores, perdeu ambas as decisões — incluindo a final contra o Botafogo, em que teve um jogador a mais durante todo o jogo. No Brasileirão, o clube ainda luta para evitar o rebaixamento, dependendo de uma combinação de resultados.

Números e substitutos especulados

Milito encerra sua passagem pelo Atlético com 62 jogos, acumulando 23 vitórias, 20 empates e 19 derrotas em nove meses.

Nos bastidores, alguns nomes já ganham força como possíveis substitutos. Assim, Luís Castro (ex-Botafogo), Tite (ex-Flamengo, Corinthians e Seleção Brasileira) e Cuca estão mais fortes nos bastidores.

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Insolvência: o termo que reflete momento financeiro dos Correios

Os Correios registraram, de janeiro a setembro de 2024, o maior prejuízo de sua história para o período: R$ 2 bilhões. A estatal está prestes a superar o pior desempenho anual já registrado, de R$ 2,1 bilhões, ocorrido em 2015, durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Sob a gestão de Fabiano Silva dos Santos, advogado de 47 anos e indicado pelo grupo Prerrogativas — conhecido por sua proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —, os Correios enfrentam uma grave crise que ameaça a sustentabilidade financeira.

Fabiano, apelidado de “churrasqueiro de Lula” devido à relação próxima com o presidente, tem adotado medidas para tentar conter o colapso. Entre elas está a implementação de um teto de gastos de R$ 21,96 bilhões, que resultou no encerramento de contratos e na suspensão de novas contratações de terceirizados. Apesar dessas ações, a projeção revisada para as receitas em 2024 caiu de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões, insuficiente para evitar um prejuízo estimado de pelo menos R$ 1,7 bilhão.

Em documento interno, os Correios destacaram que as ações em curso têm como objetivo estancar a situação de insolvência da empresa, ou seja, garantir o equilíbrio econômico-financeiro e evitar um colapso total. Mesmo assim, a situação é agravada por fatores como o impacto de decisões anteriores, incluindo a desistência de ações trabalhistas que somam cerca de R$ 1 bilhão e a chamada “taxa das blusinhas” — uma política de taxação de compras internacionais abaixo de US$ 50, implementada no governo Lula, que teria reduzido a receita da estatal em outro R$ 1 bilhão.

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Além disso, os Correios enfrentam um histórico de “sucateamento”, conforme apontado pela gestão atual, que atribui parte dos problemas às políticas do governo anterior. Por outro lado, especialistas apontam que a administração de Fabiano Silva dos Santos também contribuiu para o agravamento da situação orçamentária, com decisões estratégicas que ainda não mostraram resultados concretos na recuperação da estatal.

Insolvência é o termo utilizado para descrever a incapacidade de uma empresa ou indivíduo de honrar compromissos financeiros. Quando uma organização entra nesse estado, ela não consegue gerar receita suficiente para cobrir despesas e dívidas, colocando em risco a operação. É basicamente quando as dívidas do devedor são maiores do que o patrimônio.

Outro exemplo é a Telebras, que acumula dívidas de R$ 200,7 milhões e foi incluída em órgãos de proteção ao crédito por dificuldades em honrar seus compromissos. Ambas as empresas foram retiradas dos planos de privatização pelo governo Lula, uma decisão que, segundo analistas, aumentou a pressão para que a gestão atual demonstre resultados que justifiquem a manutenção do controle estatal.

Com as contas no vermelho e sem uma solução clara à vista, os Correios enfrentam um futuro incerto.

* Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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Serasa: Feirão Limpa Nome disponibiliza telefone gratuito para negociação de dívidas

Para facilitar a vida do consumidor que busca limpar o nome, a Serasa começou a disponibilizar um telefone gratuito exclusivo para facilitar a negociação de dívidas. Com isso, consumidores de todas as regiões do país podem entrar em contato com atendentes da própria empresa, treinados para tirar dúvidas e auxiliar no processo completo de negociação. A ação “Alô, Serasa” tem início na segunda-feira (25/11) e se estende até sexta-feira (29) pelo número 0800 591 5161.

O atendimento será realizado por atendentes treinados e pelos próprios funcionários especialistas da Serasa, que estarão dedicados a ouvir o consumidor das 8h às 20h. Pelo telefone, é possível ter acesso às ofertas e a condições de pagamento disponibilizadas pelas mais de 1 mil empresas parceiras, entre bancos, varejistas, telecomunicações, securitizadoras e concessionárias de contas básicas.

Segundo Daniel Nure, coordenador de Consumer Care da Serasa, a experiência por voz visa proporcionar a negociação a milhares de brasileiros que não conseguem ou não podem se dirigir às agências dos Correios, ou não se sentem confortáveis em fazer as mesmas negociações pelos canais digitais oficiais. “Funciona como mais um canal para ampliar as facilidades e oferecer as soluções para quem deseja retomar a vida financeira neste final de ano”, afirmou.

Ainda segundo a Serasa, os consumidores terão os mesmos benefícios do Feirão, chegando a 99% de descontos. Os débitos pagos com Pix, por exemplo, vão permitir que o nome fique limpo na hora, saindo do endividamento. O consumidor também poderá reunir todos os boletos num só pagamento.

Outro ponto que vale destacar é que contas atrasadas de água e luz podem ser pagas de forma parcelada por telefone.

A Serasa alerta para cuidados com golpes e fraudes, envolvendo números suspeitos de telefone. “O canal 0800 591 5161 apenas recebe chamadas dos consumidores. Se um número diferente ou similar entrar em contato alegando ser um atendente Serasa, esse não é um atendente oficial”, assegura Nure.

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13° salário: como empreendedores podem se organizar para ter o dinheiro extra no fim de ano

O 13° salário é um direito assegurado pela legislação brasileira para os trabalhadores CLT, que recebem todo fim de ano um salário inteiro a mais. Esse dinheiro pode fazer muita diferença nas finanças, pensando em todas as tradicionais contas de começo de ano, além dos presentes na época de festas.

No entanto, outro grupo importante de trabalhadores no Brasil não tem direito ao recebimento: os empreendedores.

O país, até 2022, tinha 14,6 milhões só de microempreendedores individuais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Olhando para um quadro mais geral, eram 42 milhões de empreendedores até aquele ano, de acordo com pesquisa do Sebrae e da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).

Para esses milhões de pessoas, o recebimento do 13° salário depende da própria organização financeira — para que seja possível, com o rendimento que entra a cada mês, reservar uma parte para compor esse salário extra no fim do ano.

Mila Gaudencio, educadora financeira e consultora do will bank, explica que, embora possa parecer uma missão desafiadora, é possível que empreendedores tenham seu 13° salário. Para isso, a melhor alternativa é que juntar esse valor seja um objetivo que comece ainda nos primeiros meses do ano e seja trabalhado em pequenas metas.

A especialista falou sobre como os empreendedores podem se organizar para ter um 13° salário no segundo episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.

Veja a íntegra da entrevista abaixo:

Você vai ver nesta reportagem:

Como um empreendedor pode ter um 13° salário no fim do ano

Para os empreendedores, autônomos ou outros profissionais que não têm o direito ao 13° salário por lei, a preparação para ter esse dinheiro extra entre novembro e dezembro deve começar ainda no início do ano.

O primeiro passo é separar a pessoa física da pessoa jurídica, e delimitar o que é dinheiro da empresa e o que é dinheiro do profissional. Para isso, o empreendedor precisa, com base nos cálculos individuais de cada negócio, definir qual será seu salário — o pró-labore — e deixar o restante do faturamento para pagar as contas da empresa e formar caixa.

O 13° salário ideal é o valor do rendimento do profissional no ano dividido por 12. Dessa forma, o empreendedor pode pegar um pouco do seu pró-labore mensal e poupar ao longo do ano, para que em dezembro tenha o 13°.

No entanto, a educadora financeira ressalta que, principalmente para os empreendedores iniciantes, pode ser difícil juntar o valor equivalente a um 13° completo

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

Mesmo assim, vale reservar um pouco por mês, por menor que seja o valor, para que o empreendedor tenha pelo menos uma parte desse 13° para ajudar com as contas da pessoa física no começo do ano, aconselha Mila.

Volte ao início.

LEIA MAIS

Como surgiu o 13° salário e a importância de enxergá-lo como um direito

O 13° salário — ou “gratificação de Natal” — surgiu em 13 de julho de 1962, no governo de João Goulart, oficializado pela lei nº 4.090. A medida foi uma resposta a uma série de protestos e greve dos trabalhadores, em um momento em que a inflação elevada corroía o poder de compra da população.

Esse benefício trazido pelas leis trabalhistas não nasceu sem reclamações: empresários e especialistas da área econômica da época diziam, inclusive, que a obrigatoriedade do empregador de pagar um 13° salário poderia quebrar o país.

No entanto, não aconteceu. E, mais que isso, injeta bilhões na economia todos os anos. Em 2024, por exemplo, a expectativa é que o pagamento do 13° salário coloque mais de R$ 320 bilhões na economia brasileira.

E entender os motivos para o surgimento deste benefício, segundo Mila Gaudencio, pode ajudar o trabalhador a ter mais consciência sobre o dinheiro que entra na conta.

A conta é simples, explica a educadora financeira:

Um ano tem 52 semanas;

Ao dividir essas 52 por 4 — que é a média de semanas contadas por mês —, o resultado é 13;

Assim, o 13° compensa essas quatro semanas restantes que formam o “13° mês”.

Esse dinheiro, segundo Mila, serve para aqueles meses que têm mais dias úteis e podem gerar um desequilíbrio nas contas, já que os gastos com transportes e alimentação no trabalho, por exemplo, podem ser maiores.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

Para a educadora financeira, enxergar esse dinheiro como um direito e não um bônus faz diferença no comportamento financeiro. “Quando a gente sabe que demandou um esforço para conquistar esse dinheiro, a gente acaba tendo uma disciplina maior do que se fosse simplesmente um dinheiro ganhado”.

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Como analisar o melhor destino para o 13° salário

Mila Gaudencio afirma que a forma de gastar o 13° salário deve ser decidida com base em uma análise pessoal, entendendo qual a realidade em que se vive. No entanto, há alguns pontos que devem ser levados em consideração para que essa decisão seja o mais acertada possível.

1⃣ Avaliação das dívidas

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, a CNC, até setembro de 2024, apesar de uma queda no número de endividados, o número de pessoas que se declaram endividadas no Brasil ainda era de 77,2%.

E embora o alto endividamento seja uma realidade brasileira, as dívidas podem gerar uma série de efeitos negativos na saúde mental de quem as contrai. Assim, se há dívidas importantes, de valores elevados e que pesem no orçamento, Mila pontua que priorizar pagá-las é uma boa opção.

Se as parcelas da dívida comprometem uma fatia importante do orçamento mensal, vale a pena usar o dinheiro do 13° salário para quitar os débitos totalmente ou, pelo menos, diminui-los.

A educadora financeira ainda alerta que vale procurar o banco para tentar negociar um desconto para a quitação do valor ou, se não for possível pagar tudo de uma vez, buscar alternativas para reduzir o valor das parcelas restantes — seja amortizando uma parte e/ou fazendo uma portabilidade das dívidas.

2⃣ Se não há dívidas, vale pensar nas contas que se aproximam.

“A pessoa tem que olhar para a realidade dela e olhar como um todo. Depois de dezembro, vem janeiro. E vem janeiro com outras despesas”, diz ela.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

Tradicionalmente, todo começo de ano chegam algumas contas que podem pesar sobre as finanças, como IPTU, IPVA, materiais escolares e férias, por exemplo.

Quem deixa para pensar nessas despesas só quando elas chegam, porém, pode começar o ano já se enrolando financeiramente, ao precisar parcelas as contas — contraindo novas dívidas.

Então, o conselho da educadora financeira é que aqueles que não têm uma reserva, ou pelo menos uma folga no orçamento, guardar o valor do 13° para arcar com essas despesas é uma boa escolha, capaz de trazer a desejada “paz de espírito” nos meses seguintes.

3⃣ Depois de analisar as contas passadas, presentes e futuras, tudo bem destinar uma parte do dinheiro para se presentear.

Mila considera que é “saudável que a pessoa que não tem dívidas e está com as contas em dia compre um presente para si”. Isso porque o dinheiro, para além de pagar contas, tem o propósito de proporcionar boas experiências para o trabalhador.

Porém, mesmo sem dívidas, a especialista alerta que é importante definir limites para os gastos — ainda mais no fim do ano, uma época que é “convidativa para os gastos”.

Se o valor do 13° salário for usado para comprar presentes (para a própria pessoa ou para outros), vale a pena decidir, antes mesmo de sair de casa, qual é o teto de gastos, ou seja, qual o valor máximo que será gasto com as compras.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

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13° salário: como empreendedores podem se organizar para ter o dinheiro extra no fim de ano

O 13° salário é um direito assegurado pela legislação brasileira para os trabalhadores CLT, que recebem todo fim de ano um salário inteiro a mais. Esse dinheiro pode fazer muita diferença nas finanças, pensando em todas as tradicionais contas de começo de ano, além dos presentes na época de festas.

No entanto, outro grupo importante de trabalhadores no Brasil não tem direito ao recebimento: os empreendedores.

O país, até 2022, tinha 14,6 milhões só de microempreendedores individuais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Olhando para um quadro mais geral, eram 42 milhões de empreendedores até aquele ano, de acordo com pesquisa do Sebrae e da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).

Para esses milhões de pessoas, o recebimento do 13° salário depende da própria organização financeira — para que seja possível, com o rendimento que entra a cada mês, reservar uma parte para compor esse salário extra no fim do ano.

Mila Gaudencio, educadora financeira e consultora do will bank, explica que, embora possa parecer uma missão desafiadora, é possível que empreendedores tenham seu 13° salário. Para isso, a melhor alternativa é que juntar esse valor seja um objetivo que comece ainda nos primeiros meses do ano e seja trabalhado em pequenas metas.

A especialista falou sobre como os empreendedores podem se organizar para ter um 13° salário no segundo episódio da nova temporada do podcast Educação Financeira, que fala sobre como organizar as contas ainda neste ano para começar o próximo com o pé direito.

Veja a íntegra da entrevista abaixo:

Você vai ver nesta reportagem:

Como um empreendedor pode ter um 13° salário no fim do ano

Para os empreendedores, autônomos ou outros profissionais que não têm o direito ao 13° salário por lei, a preparação para ter esse dinheiro extra entre novembro e dezembro deve começar ainda no início do ano.

O primeiro passo é separar a pessoa física da pessoa jurídica, e delimitar o que é dinheiro da empresa e o que é dinheiro do profissional. Para isso, o empreendedor precisa, com base nos cálculos individuais de cada negócio, definir qual será seu salário — o pró-labore — e deixar o restante do faturamento para pagar as contas da empresa e formar caixa.

O 13° salário ideal é o valor do rendimento do profissional no ano dividido por 12. Dessa forma, o empreendedor pode pegar um pouco do seu pró-labore mensal e poupar ao longo do ano, para que em dezembro tenha o 13°.

No entanto, a educadora financeira ressalta que, principalmente para os empreendedores iniciantes, pode ser difícil juntar o valor equivalente a um 13° completo

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

“Eu empreendo faz quatro anos e esse foi o primeiro ano em que eu consegui me pagar um 13°. E é isso também: entender que é um processo. Se você começou a empreender agora, existe um processo até você conseguir ter uma estabilidade financeira, uma receita, um faturamento mais linear… isso leva um tempo. Então não se frustre, não se desespere”, conta.

Mesmo assim, vale reservar um pouco por mês, por menor que seja o valor, para que o empreendedor tenha pelo menos uma parte desse 13° para ajudar com as contas da pessoa física no começo do ano, aconselha Mila.

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Como surgiu o 13° salário e a importância de enxergá-lo como um direito

O 13° salário — ou “gratificação de Natal” — surgiu em 13 de julho de 1962, no governo de João Goulart, oficializado pela lei nº 4.090. A medida foi uma resposta a uma série de protestos e greve dos trabalhadores, em um momento em que a inflação elevada corroía o poder de compra da população.

Esse benefício trazido pelas leis trabalhistas não nasceu sem reclamações: empresários e especialistas da área econômica da época diziam, inclusive, que a obrigatoriedade do empregador de pagar um 13° salário poderia quebrar o país.

No entanto, não aconteceu. E, mais que isso, injeta bilhões na economia todos os anos. Em 2024, por exemplo, a expectativa é que o pagamento do 13° salário coloque mais de R$ 320 bilhões na economia brasileira.

E entender os motivos para o surgimento deste benefício, segundo Mila Gaudencio, pode ajudar o trabalhador a ter mais consciência sobre o dinheiro que entra na conta.

A conta é simples, explica a educadora financeira:

Um ano tem 52 semanas;

Ao dividir essas 52 por 4 — que é a média de semanas contadas por mês —, o resultado é 13;

Assim, o 13° compensa essas quatro semanas restantes que formam o “13° mês”.

Esse dinheiro, segundo Mila, serve para aqueles meses que têm mais dias úteis e podem gerar um desequilíbrio nas contas, já que os gastos com transportes e alimentação no trabalho, por exemplo, podem ser maiores.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

“Na verdade, o 13° é essa diferença para os meses que têm cinco semanas, para a pessoa receber pelo que ela trabalhou. Então, ele é visto como um salário a mais, mas se você dividir 52 por 4 vai dar 13. Então, ele é um direito do trabalhador, porque é, de fato, um período que ele trabalhou”, explica.

Para a educadora financeira, enxergar esse dinheiro como um direito e não um bônus faz diferença no comportamento financeiro. “Quando a gente sabe que demandou um esforço para conquistar esse dinheiro, a gente acaba tendo uma disciplina maior do que se fosse simplesmente um dinheiro ganhado”.

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Como analisar o melhor destino para o 13° salário

Mila Gaudencio afirma que a forma de gastar o 13° salário deve ser decidida com base em uma análise pessoal, entendendo qual a realidade em que se vive. No entanto, há alguns pontos que devem ser levados em consideração para que essa decisão seja o mais acertada possível.

1⃣ Avaliação das dívidas

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, a CNC, até setembro de 2024, apesar de uma queda no número de endividados, o número de pessoas que se declaram endividadas no Brasil ainda era de 77,2%.

E embora o alto endividamento seja uma realidade brasileira, as dívidas podem gerar uma série de efeitos negativos na saúde mental de quem as contrai. Assim, se há dívidas importantes, de valores elevados e que pesem no orçamento, Mila pontua que priorizar pagá-las é uma boa opção.

Se as parcelas da dívida comprometem uma fatia importante do orçamento mensal, vale a pena usar o dinheiro do 13° salário para quitar os débitos totalmente ou, pelo menos, diminui-los.

A educadora financeira ainda alerta que vale procurar o banco para tentar negociar um desconto para a quitação do valor ou, se não for possível pagar tudo de uma vez, buscar alternativas para reduzir o valor das parcelas restantes — seja amortizando uma parte e/ou fazendo uma portabilidade das dívidas.

2⃣ Se não há dívidas, vale pensar nas contas que se aproximam.

“A pessoa tem que olhar para a realidade dela e olhar como um todo. Depois de dezembro, vem janeiro. E vem janeiro com outras despesas”, diz ela.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

“Então, é importante você ter uma visão do todo. Não usar todo o dinheiro em dezembro e esquecer que tem outros meses e outras coisas que estão por vir”, afirma Mila.

Tradicionalmente, todo começo de ano chegam algumas contas que podem pesar sobre as finanças, como IPTU, IPVA, materiais escolares e férias, por exemplo.

Quem deixa para pensar nessas despesas só quando elas chegam, porém, pode começar o ano já se enrolando financeiramente, ao precisar parcelas as contas — contraindo novas dívidas.

Então, o conselho da educadora financeira é que aqueles que não têm uma reserva, ou pelo menos uma folga no orçamento, guardar o valor do 13° para arcar com essas despesas é uma boa escolha, capaz de trazer a desejada “paz de espírito” nos meses seguintes.

3⃣ Depois de analisar as contas passadas, presentes e futuras, tudo bem destinar uma parte do dinheiro para se presentear.

Mila considera que é “saudável que a pessoa que não tem dívidas e está com as contas em dia compre um presente para si”. Isso porque o dinheiro, para além de pagar contas, tem o propósito de proporcionar boas experiências para o trabalhador.

Porém, mesmo sem dívidas, a especialista alerta que é importante definir limites para os gastos — ainda mais no fim do ano, uma época que é “convidativa para os gastos”.

Se o valor do 13° salário for usado para comprar presentes (para a própria pessoa ou para outros), vale a pena decidir, antes mesmo de sair de casa, qual é o teto de gastos, ou seja, qual o valor máximo que será gasto com as compras.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

“Tem que ter cuidado para que os sonhos não virem pesadelos financeiros”, alerta Mila. “As despesas aumentam no começo do ano, então é importante analisar o pós (dezembro) antes das compras”.

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Vai trabalhar no feriado de Proclamação da República? Conheça os seus direitos

Na proxima sexta-feira (15), o Brasil celebra o feriado de Proclamação da República. A data garante um dia a mais de descanso para os trabalhadores, além da possibilidade de emenda para quem folga no fim de semana.

Desde 1949, o feriado de 15 de Novembro é nacional, regulamentado pela Lei Federal 662, do presidente Eurico Gaspar Dutra. (entenda o significado e importância da data)

Apesar disso, não é todo mundo que acaba sendo beneficiado. A legislação trabalhista autoriza o funcionamento das atividades em alguns setores, que são classificados como essenciais. (confira abaixo)

⚠ Mas atenção: quem for escalado para trabalhar na data tem alguns direitos assegurados, como remuneração em dobro ou um dia de folga compensatória.

O g1 conversou com advogados especialistas em direito trabalhista para te ajudar a entender mais sobre o assunto.

Abaixo, você vai descobrir:

🤔 Meu chefe pode me obrigar a trabalhar durante o feriado?

⚖ Quais são os meus direitos?

💰 Remuneração em dobro ou folga? Quem define?

❌ Faltei ao trabalho, apesar de ter sido escalado. Posso ser demitido por justa causa?

⚠ As regras são diferentes para empregado fixo e temporário?

✍🏼 Como funciona no caso do trabalhador intermitente?

📆 Quais são os proximos feriados de 2024?

1. Meu chefe pode me obrigar a trabalhar durante o feriado?

Sim. Apesar do artigo 70 da CLT proibir atividades profissionais durante feriados nacionais, a legislação abre exceções para serviços considerados essenciais, como setores de indústria, comércio, transportes, comunicações, serviços funerários, atividades ligadas à segurança, entre outros.

Além disso, o empregador pode solicitar que o funcionário trabalhe durante o feriado quando houver uma Convenção Coletiva de Trabalho, que é um acordo antecipado feito entre empregadores e sindicatos.

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2. Quais são os meus direitos?

Para quem é obrigado a trabalhar no feriado, a legislação garante o pagamento da remuneração em dobro ou compensação com folga em outro dia.

” Havendo banco de horas também poderão ser lançadas essas horas de trabalho, nos termos do acordo individual ou coletivo”, explica Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista e sócia do A. C Burlamaqui Consultores.

” Havendo banco de horas também poderão ser lançadas essas horas de trabalho, nos termos do acordo individual ou coletivo”, explica Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista e sócia do A. C Burlamaqui Consultores.

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3. Remuneração em dobro ou folga? Quem define?

A definição do tipo de compensação (seja através do pagamento em dobro ou concessão de folga compensatória) geralmente é determinada durante o acordo que feito entre empregador e sindicato.

Na ausência da Convenção Coletiva de Trabalho, a decisão pode ser negociada entre empregador e funcionário. No entanto, é importante que as duas partes estejam de acordo e que a compensação escolhida esteja em conformidade com a legislação.

“O empregador não pode decidir de forma unilateral. Se houver um acordo ou convenção coletiva prevendo a compensação por folga, essa regra prevalece; caso não exista, o pagamento em dobro pelo trabalho no feriado é obrigatório”, afirma Elisa Alonso, advogada trabalhista e sócia do RCA Advogados.

“O empregador não pode decidir de forma unilateral. Se houver um acordo ou convenção coletiva prevendo a compensação por folga, essa regra prevalece; caso não exista, o pagamento em dobro pelo trabalho no feriado é obrigatório”, afirma Elisa Alonso, advogada trabalhista e sócia do RCA Advogados.

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4. Faltei ao trabalho, apesar de ter sido escalado. Posso ser demitido por justa causa?

Depende. A falta, diante da determinação do empregador para o comparecimento, poderá ser entendida como insubordinação, que é a desobediência a um superior.

“Mas a dispensa por justa causa, em geral, não decorre de um fato isolado, mas de um comportamento faltoso de forma reiterada”, afirma Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista.

“Mas a dispensa por justa causa, em geral, não decorre de um fato isolado, mas de um comportamento faltoso de forma reiterada”, afirma Ana Gabriela Burlamaqui, advogada trabalhista.

Com isso, a demissão por justa causa geralmente segue um processo que deve incluir uma soma de advertências escritas e tentativas de correção de comportamento.

Em caso de expediente normal, o empregado poderá sofrer outras penalidades administrativas como o desconto do dia não trabalhado que será considerado falta injustificada.

“A falta injustificada deve ser repreendida, no entanto, para fins de justa causa necessário que outros sejam analisados, como a recorrência da conduta, o impacto causado à empresa e a função desempenhada pelo empregado, por exemplo”, completa a advogada trabalhista Elisa Alonso.

“A falta injustificada deve ser repreendida, no entanto, para fins de justa causa necessário que outros sejam analisados, como a recorrência da conduta, o impacto causado à empresa e a função desempenhada pelo empregado, por exemplo”, completa a advogada trabalhista Elisa Alonso.

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5. As regras são diferentes para empregado fixo e temporário?

As regras básicas sobre trabalho em feriados aplicam-se tanto a empregados fixos quanto temporários, incluindo o direito ao pagamento em dobro ou folga compensatória.

No entanto, contratados por meio de vínculo de trabalho temporário podem ter pré-condições específicas.

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6. Como funciona no caso do trabalhador intermitente?

Para o trabalhador que é contratado em regime de trabalho intermitente (previsão legal inserida na CLT pela Reforma Trabalhista de 2017), o pagamento em feriados deve ser acordado no momento da admissão.

O contrato de trabalho intermitente deve especificar o valor da hora de trabalho, que já deve considerar os adicionais devidos por trabalho em feriados ou horas extras.

Dessa forma, o trabalhador intermitente receberá o valor que foi combinado para os dias trabalhados, incluindo feriados, aponta o advogado Luís Nicoli.

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7. Quais são os próximos feriados de 2024?

O ano de 2024 está sendo marcado por ter poucos “feriadões” prolongados. O proximo feriado é o Dia da Consciência Negra, na quarta-feira (20), que agora passou a ser um feriado nacional.

A alteração foi aprovada no Congresso em novembro passado e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Antes, a data não fazia parte do calendário nacional e nem era considerada ponto facultativo nacional. A folga dependia de lei municipal ou estadual.

Após o mês de novembro, o próximo feriado nacional será o Natal, em 25 de dezembro. Porém a data cai em uma quarta-feira, o que pode dificultar uma possibilidade de emenda.

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