A explicação da Petrobras para o prejuízo e a distribuição de dividendos de um resultado negativo

O diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, tentou explicar o prejuízo de R$ 2,6 bilhões da empresa no segundo trimestre, mas seus argumentos não atenuam o efeito político muito ruim desse resultado. Afinal é o primeiro prejuízo depois do terceiro trimestre de 2020 quando o país e o mundo viviam o impacto da pandemia da Covid-19.

Mas vamos aos argumentos de Melgarejo.

Primeiro ele disse que o resultado não seria tão ruim porque há indicadores bons, como o Ebitda – ou seja, o resultado operacional da empresa – que está em linha com o primeiro trimestre. O fluxo de caixa operacional recorrente seria, inclusive, está ligeiramente superior ao do período passado, informou o diretor. E acrescentou que dívida é menor do que US$ 65 bilhões e que vai ter a distribuição de dividendos ordinário.

Eu quis saber como a empresa vai distribuir dividendos se teve prejuízo no trimestre. E ele respondeu o seguinte:

— É porque aqui na Petrobras, o dividendo é calculado em cima do fluxo de caixa livre, que é o fluxo operacional menos os investimentos realizados no período. Em cima disso, a gente atribui um percentual de 45%. Desses 45%, a gente tem o lucro a ser distribuído e ele, de fato, não conversa diretamente com o resultado. No passado, a gente criou uma reserva de remuneração de capital para pagar essa diferença. E temos, como eu te falei, o resultado acumulado dos sinais positivos.

Melgarejo está explicando o resultado negativo como efeito de dois fatores. O primeiro é o acordo com o Carf, que envolvia uma disputa de R$ 45 bilhões. Quer dizer, a Receita estava cobrando essa dívida. O acordo foi fechado por menos da metade do valor, R$ 19,8 bilhões, uma parte disso será pago com créditos tributários, e ao todo serão seis parcelas mensais. Segundo o diretor financeiro, esse acordo teve um impacto no lucro líquido de US$ 2,1 bilhões e no caixa, de US$ 700 milhões. O segundo fator é o dólar, o real se desvalorizou 11,2% frente a moeda americana no segundo trimestre. A Petrobras destacou perdas financeiras de R$ 36,4 bilhões por conta da variação cambial.

Na conversa, o diretor fez um cálculo que não faz muito sentido e que é assim: se não fossem esses dois fatores, o acordo e a desvalorização cambial, o resultado seria positivo. Então eu perguntei por que não ocorreu à empresa aumentar o preço dos combustíveis, dado que o dólar estava mais alto?

Fernando Melgarejo respondeu o seguinte: “A gente fez um ajuste, foi dia 15 de julho, usando uma metodologia que nós usamos aqui. Seguimos integralmente aqui a governança disso”. O aumento foi de 7,1% da gasolina e 9,8% do gás de cozinha.

Qual é o problema? Hoje já não se conhece essa metodologia de reajuste de preços da companhia. Perdeu-se transparência depois que acabou a política de paridade com o preço internacional. O governo Lula prometeu “abrasileirar” os preços. E nesse teste a política foi reprovada.

Não se pode atribuir tudo à nova administração que acabou de chegar. Mas o fato é que a maior empresa do país, a maior estatal, que ficou no meio de disputas políticas internas no governo, e que foi alvo de interferência, acabou dando prejuízo no trimestre. E isso lembra muito outros prejuízos no passado da gestão petista.

O mercado fica satisfeito porque haverá distribuição de dividendos, mas o fato é que ninguém esperava um resultado tão ruim. Em geral, nas conversas que Ana Carolina Diniz, aqui do blog, teve com especialistas antes da divulgação, a expectativa era de queda do lucro, mas não de prejuízo.

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‘O mais importante para o cliente é saber se tem o produto que ele quer e vaga para estacionar’, diz CEO do Assaí

Em fevereiro do ano que vem, um cruzeiro com até 5 mil clientes, funcionários e fornecedores do Assaí vai de Santos, no litoral de São Paulo, até Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Será uma das comemorações dos 50 anos da rede de atacarejo, que intensificou o processo de expansão nacional abrindo mais de cem unidades desde 2021. A meta é chegar em 300, diz Belmiro Gomes, CEO do Assaí, em entrevista ao GLOBO, mas o plano vai desacelerar neste ano para moderar o endividamento da empresa.

Serão 30 novas lojas até fim de 2025. Além de uma campanha para marcar aniversário redondo, rede de hipermercados também investe na modernização de lojas para atrair consumidores de alta renda. Atualmente, seu modelo de atacarejo atrai principalmente consumidores das classes C, D e E em busca de preços mais baixos. Segundo Gomes, a retomada do nível de consumo dos clientes ao patamar pré-pandemia ainda não se completou.

Como será a campanha que marca os 50 anos do Assaí?

Nascemos na Zona Leste de São Paulo, com uma pequena loja, e hoje somos uma das maiores redes do Brasil, com mais de 82 mil colaboradores, temos lojas gigantescas. A campanha que vamos fazer é a maior da nossa história, com R$ 20 milhões em prêmios, o aluguel de um navio para levar colaboradores e clientes. Desde o início do ano nós já temos passado uma nova mensagem também, com o slogan “Para Todos, de Sol a Sol”.

Ainda temos uma nova identidade visual, com logo e marca. Na campanha, buscamos artistas das cinco regiões do país. Nós temos esse cuidado de não fazer parecer que o Assaí é uma empresa de São Paulo.

Faz um ano que o grupo Casino deixou de vez a participação no Assaí. O que mudou?

Tem algumas mudanças com a dinâmica, quando você não tem um acionista controlador. Mas, na minha visão, a companhia seguiu de forma consistente. Operacionalmente, o impacto foi praticamente nulo. Do ponto de vista comercial, operacional e administrativo, já era uma companhia totalmente independente. O que se fazia era uma consolidação de resultados. Mas o nível de interferência era baixo.

O modelo de atacarejo pode ser melhorado?

Nosso modelo sempre teve a vantagem de oferecer preço baixo. Mas o calcanhar de aquiles era uma experiência de compra às vezes muito ruim, com lojas espartanas. Unidades novas do Assaí, como a de Anhanguera, em São Paulo, são diferentes. Não tem como sair reformando todo o parque de uma vez, mas, nas novas unidades, principalmente dos últimos três anos, desde que compramos a rede (de lojas) do Extra, incluímos açougue, padaria, serviço de cafeteria. Foi feita também uma ampliação na quantidade de marcas ofertadas.

A busca é reequilibrar a oferta entre preço baixo e experiência. Muito do ganho de escala que tivemos nos últimos anos, com diminuição de custo e sinergia, foi investido na experiência de compra. Isso para que o modelo do Assaí não ficasse restrito ao público das classes C, D e E, que era o foco inicial. Essa evolução vem acontecendo de forma muito forte nos últimos anos e deve seguir para frente.

Como estão fazendo esse reequilíbrio?

Muito do ganho de escala que tivemos nos últimos anos, com diminuição de custo e sinergia, foram investidos na experiência de compra. Se a gente olhar em uma linha do tempo mais longa, o percentual de despesas de vendas, gerais e administrativas que nós trabalhávamos em 2011 é o mesmo que nós temos até hoje, em uma companhia muito maior.

E boa parte do ganho de escala foi reinvestido em experiência de compra. Isso para que o modelo do Assaí não ficasse restrito ao público das classes C, D e E, que era o foco inicial. Essa evolução vem acontecendo de forma muito forte nos últimos anos e ainda deve seguir para frente.

O objetivo é que todas as lojas tenham o padrão das novas unidades?

Todas. Em São Paulo, reformamos as lojas da Casa Verde, em São Bernardo. Vamos fazer a revitalização na Barra Funda. Imóveis mais antigos, por mais que você invista e faça a revitalização, nunca são iguais ao que você construiu, mas em termos de experiência de compra fica muito próximo.

Como atrair as classes A e B?

Quando você estratifica a participação por classes sociais na nossa base de clientes ela é muito similar ao que se tem na população brasileira. Ter a expertise de operar para todas as classes sociais é uma vantagem, dado que isso não nos limita do ponto de vista de expansão. Nós temos lojas preparadas para atender a baixa renda e lojas preparadas para atender a alta renda.

Há lojas com 400 rótulos de vinho de oferta. Ou seja, conseguimos atender a um público de outras classes sociais. Isso dá uma diversidade que nos permite, tanto do ponto de vista de expansão nacional, como do ponto de vista de região, olhar o Brasil como um todo sem muita restrição

Há rivais ganhando espaço no atacarejo. Como se diferenciar?

Essa entrada para atender a população de maior renda, em grandes centros, foi um movimento, por exemplo. E por mais que você tenha duas companhias trabalhando na mesma área, cada uma tem a sua cultura. O mercado é altamente competitivo. O fato de estarmos em uma posição de destaque hoje não nos dá tranquilidade. Precisamos continuar levantando mais cedo, correndo mais e batalhando com os demais competidores, que é o que move.

O ritmo de expansão das lojas vai diminuir?

Sim, vai ser um ritmo menor até porque precisamos depurar muito dessa expansão. Em 36 meses, foram quase 120 lojas de inauguração. A aquisição do Extra foi feita principalmente para entrar em pontos comerciais na grande São Paulo e em outras capitais que, do ponto de vista imobiliário, seria muito difícil. Então o modelo foi adaptado e evoluído para atender a um público de maior renda dessas regiões.

Passado esse período, a companhia acumulou uma alavancagem importante, e os juros não se comportaram como esperado. Isso fez com que passássemos a carregar um custo de carregamento de dívida elevado. Agora estamos segurando investimento. Reduzimos a expansão para 15 lojas. Ainda vamos definir o que será para 2025, mas deve ficar em patamares próximos de 2024.

O nível de endividamento preocupa?

A companhia sempre foi uma grande geradora de caixa. Tanto que no período do GPA nós nunca recebemos qualquer real de investimento, nem do GPA nem do Casino. Quando eu cheguei no Assaí foi feito todo esse movimento de expansão com captação de recursos no mercado financeiro ou por geração de caixa próprio. À medida que a gente entra com o objetivo de desalavancagem, há uma questão do custo da dívida.

O custo da dívida tem a ver com o montante, quantas vezes o Ebitda (indicador contábil de geração de caixa) comprometido, mas principalmente quanto do Ebitda eu destino para pagar esse custo. Se os juros estiverem em 4%, você pode suportar uma alavancagem de duas, três vezes o nível de Ebtida. Com os juros no patamar atual, requer cautela e por isso vamos dar uma segurada agora no nível de investimento.

Vê perspectiva de melhora no cenário econômico?

Ainda vejo com muita cautela. Temos fatores externos, como os juros nos EUA, que têm elevado a pressão. A grande preocupação é até onde vai a taxa de câmbio. Se o dólar permanecer muito elevado pode levar a um repique inflacionário no Brasil. E, obviamente, sigo torcendo pela queda de juros. Enquanto os juros seguem altos, não há espaço para um cenário tão otimista como nós tínhamos no final do ano passado.

O que mudou no perfil de consumo das classes C e D desde o início do Assaí?

Indiscutivelmente há uma melhora da renda da população, ainda que a renda seja muito curta e com dificuldades. O que nós fizemos, do ponto de vista da adaptação, é que inicialmente o setor era muito voltado para preços baixos. Agora há um foco em preço baixo mas também em garantir uma experiência de compra e uma amplitude de marcas que permitam uma escolha para o consumidor.

No período pós-pandemia com inflação e juros altos, o atacarejo acabou sendo uma opção para quem buscava preço mais baixo. Como está o comportamento agora?

Houve um trade down (quando consumidor passa a optar por opções mais baratas do que normalmente compraria) que estimamos ter sido de cerca de 12% no período da pandemia para cá. Também houve um movimento feito pela indústria de redução dos tamanhos de embalagens. A combinação de juros altos e própria inflação tem feito com que a população ainda não tenha conseguido retomar seus hábitos de compra.

Esse trade down de 12% ainda não teve retorno. A gente também tem visto também, e eu fui um dos primeiros a trazer isso, a questão dos jogos eletrônicos, das bets, do jogo do Tigrinho que estão fazendo um estrago muito grande na população de baixa renda. É inacreditável.

Como vocês calculam esse ‘estrago’?

Temos uma série de pesquisas de monitoramento do destino de renda. Uma delas perguntou justamente o que impedia as pessoas de voltarem aos níveis de consumo anteriores ao da pandemia, e aí apareciam juros altos, cartão de crédito e um pedaço da renda indo primeiro para as bets e depois para o famigerado jogo do Tigrinho. Tem gerado uma série de impactos, principalmente na população de baixa renda.

Quando deve haver uma retomada do consumo aos níveis pré-pandemia?

Não esperamos uma retomada tão expressiva. Parte desses 12% de trade down, por exemplo, já foi incorporada como uma mudança de hábito. E enquanto os juros seguirem elevados, com a população endividada, a gente vê uma parcela que não tem espaço para uma grande retomada de consumo. Nossa expectativa é ter um segundo semestre mais positivo do que o primeiro, mas nenhuma grande explosão em termos de mercado.

Uma parcela importante dos clientes de vocês é de pequenos e médios comerciantes. O comportamento de compra anterior ao da pandemia também não voltou?

Muitas empresas desse segmento não sobreviveram à pandemia. Já houve uma retomada, mas o que a gente vê é que esse é um cliente que está mais racional e está pressionado com os juros altos, o que obriga ele a trabalhar cada vez mais com estoque curto.

O que vislumbra para o modelo atacarejo no longo prazo? Tem como ser mais digital?

A gente deve ter cada vez mais uma combinação entre o mundo físico e o mundo digital, indiscutivelmente. Mas ainda há um desafio logístico muito grande do ponto de vista de entrega de produto alimentar, que é baixo valor agregado. Acho que a grande mudança deve vir nos canais da marca. No caso do Assaí, vamos seguir incluindo novos produtos nas lojas. Devemos avançar ainda mais em outros estados do Brasil também.

Ainda não temos operação em dois estados do Sul (SC e RS). Quando fazemos pesquisas, o que vemos é que o mais importante para o cliente é saber se o produto que ele quer tem numa loja ou se há vaga para estacionar. O e-commerce não aparece como prioridade. É claro que há grandes vantagens no e-commerce, mas no setor alimentar ainda são muitos os desafios. Já temos um aplicativo e parceria com Cornershop e Rappi para entregas. E ainda vamos evoluir em funcionalidades conectadas com o ponto físico.

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Vício em jogos on-line, como o ‘tigrinho’, endivida brasileiros

Os jogos de aposta on-line, como o famoso “tigrinho”, viraram tormento na vida dos brasileiros que acreditaram nas propagandas das redes sociais prometendo ganhos em dinheiro. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que o game se tornou uma das maiores causas de endividamento no país, com 63% dos apostadores afirmando que chegaram a comprometer até o orçamento doméstico.

O levantamento mostrou que os entrevistados mudaram os hábitos de consumo para apostar on-line: 23% dos entrevistados abriram mão de comprar roupas, 19% deixaram de fazer compras em supermercados, 14% produtos de higiene e beleza, 11% cuidados com saúde medicações.

Um relatório do Banco Santander, publicado em junho, revela também que a participação do varejo nos gastos das famílias caiu de 63%, em 2021, para 57% em 2023. Ao mesmo tempo, as bets (aposta em um jogo de azar) passaram de 0,8% da renda familiar em 2018 para um índice de 1,9% a 2,7% no ano passado.

Segundo a pesquisa da Comscore — uma empresa dos Estados Unidos de análise da internet —, desde 2019, houve um crescimento de 281% no tempo de consumo dos jogos no Brasil. As apostas têm experimentado um crescimento igualmente rápido: em 2022, o país ficou em 10º lugar globalmente com US$ 1,5 bilhão em receitas brutas de games, de acordo com dados da Entain, uma das maiores empresas de apostas esportivas on-line do Reino Unido.

O levantamento apontou que mais da metade dos apostadores fazem apostas ao menos uma vez por semana. O psicoterapeuta Alberto Dell’Isola apontou que a frequência nos jogos pode representar dependência. “Todos esses jogos podem levar ao vício. No entanto, existem elementos nos bets que podem tornar os cassinos e apostas on-line ainda mais viciantes que as loterias”, disse.

O especialista destacou a acessibilidade como fator preocupante. “Quanto mais acessível, mais viciante. Consideremos agora as máquinas de caça-níqueis e as apostas de caça-níqueis on-line. Ainda que as duas modalidades de aposta possam ter o mesmo tempo decorrido entre a aposta e o resultado, as apostas na internet são muito mais viciantes do que as máquinas de caça-níqueis: a pessoa pode apostar 24h, 7 dias por semana”, ressaltou.

O economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), apontou os fatores que podem estar levando os consumidores brasileiros a recorrerem aos jogos de azar e, consequentemente, ficarem cada vez mais endividados. “Embora a regulamentação possa trazer benefícios econômicos, como aumento da arrecadação de impostos, também pode resultar em maior exposição e, consequentemente, mais casos de vício em jogos de azar”, explicou.

Nogami Citou como possíveis causas a crise econômica e desemprego; a falta de educação financeira; a acessibilidade e a popularidade dos jogos de azar; a influência psicológica e o vício; as pressões sociais e culturais; além das promoções e publicidade enganosa; e da regulação e legalização dos games.

Segundo o economista, o endividamento resultante dos jogos de azar pode ter graves consequências financeiras e sociais. “As dívidas podem levar à inadimplência, perda de bens, problemas de relacionamento e saúde mental, como ansiedade e depressão. É crucial que medidas de educação financeira e suporte psicológico sejam disponibilizadas para ajudar aqueles afetados pelo vício em jogos de azar”, disse.

O estudante de TI (tecnologia da informação) Fabricio de Souza*, 20 anos, começou a jogar na adolescência. “Comecei na aposta esportiva, porque sempre gostei muito de futebol e de acompanhar basquete. Então, apostar nesses jogos dava emoção”, contou.

No entanto, ao completar 18 anos, ele se interessou por apostas em cassinos, os chamados slots. “Conheci o cassino on-line por meio de um primo. Ele disse que estava ganhando dinheiro e perguntou se eu queria tentar. Coloquei R$ 20 e não ganhei nada. Foi assim que começou”, relatou o jovem.

Fabrício afirmou que quando perdia, pedia dinheiro emprestado aos amigos, mas, que depois de um tempo, começou a pedir dinheiro para o banco também. “Cheguei a pegar 2 mil reais para recuperar o que tinha perdido e não consegui”, lamentou. Ele contou que parou de apostar no começo do ano e que, atualmente, não sente mais vontade de jogar.

* Estagiário sob supervisão de Luana Patriolino

* Nome fictício a pedido do entrevistado

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Vício em jogos on-line, como o ‘tigrinho’, endivida brasileiros

Os jogos de aposta on-line, como o famoso “tigrinho”, viraram tormento na vida dos brasileiros que acreditaram nas propagandas das redes sociais prometendo ganhos em dinheiro. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que o game se tornou uma das maiores causas de endividamento no país, com 63% dos apostadores afirmando que chegaram a comprometer até o orçamento doméstico.

O levantamento mostrou que os entrevistados mudaram os hábitos de consumo para apostar on-line: 23% dos entrevistados abriram mão de comprar roupas, 19% deixaram de fazer compras em supermercados, 14% produtos de higiene e beleza, 11% cuidados com saúde e medicações.

Um relatório do Banco Santander, publicado em junho, revela também que a participação do varejo nos gastos das famílias caiu de 63%, em 2021, para 57% em 2023. Ao mesmo tempo, as bets (aposta em um jogo de azar) passaram de 0,8% da renda familiar em 2018 para um índice de 1,9% a 2,7% no ano passado.

Segundo a pesquisa da Comscore — uma empresa dos Estados Unidos de análise da internet —, desde 2019, houve um crescimento de 281% no tempo de consumo dos jogos no Brasil. As apostas têm experimentado um crescimento igualmente rápido: em 2022, o país ficou em 10º lugar globalmente com US$ 1,5 bilhão em receitas brutas de games, de acordo com dados da Entain, uma das maiores empresas de apostas esportivas on-line do Reino Unido.

O levantamento apontou que mais da metade dos apostadores fazem apostas ao menos uma vez por semana. O psicoterapeuta Alberto Dell’Isola apontou que a frequência nos jogos pode representar dependência. “Todos esses jogos podem levar ao vício. No entanto, existem elementos nos bets que podem tornar os cassinos e apostas on-line ainda mais viciantes que as loterias”, disse.

O especialista destacou a acessibilidade como fator preocupante. “Quanto mais acessível, mais viciante. Consideremos agora as máquinas de caça-níqueis e as apostas de caça-níqueis on-line. Ainda que as duas modalidades de aposta possam ter o mesmo tempo decorrido entre a aposta e o resultado, as apostas na internet são muito mais viciantes do que as máquinas de caça-níqueis: a pessoa pode apostar 24h, 7 dias por semana”, ressaltou.

O economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), apontou os fatores que podem estar levando os consumidores brasileiros a recorrerem aos jogos de azar e, consequentemente, ficarem cada vez mais endividados. “Embora a regulamentação possa trazer benefícios econômicos, como aumento da arrecadação de impostos, também pode resultar em maior exposição e, consequentemente, mais casos de vício em jogos de azar”, explicou.

Nogami Citou como possíveis causas a crise econômica e desemprego; a falta de educação financeira; a acessibilidade e a popularidade dos jogos de azar; a influência psicológica e o vício; as pressões sociais e culturais; além das promoções e publicidade enganosa; e da regulação e legalização dos games.

Segundo o economista, o endividamento resultante dos jogos de azar pode ter graves consequências financeiras e sociais. “As dívidas podem levar à inadimplência, perda de bens, problemas de relacionamento e saúde mental, como ansiedade e depressão. É crucial que medidas de educação financeira e suporte psicológico sejam disponibilizadas para ajudar aqueles afetados pelo vício em jogos de azar”, disse.

O estudante de TI (tecnologia da informação) Fabricio de Souza*, 20 anos, começou a jogar na adolescência. “Comecei na aposta esportiva, porque sempre gostei muito de futebol e de acompanhar basquete. Então, apostar nesses jogos dava emoção”, contou.

No entanto, ao completar 18 anos, ele se interessou por apostas em cassinos, os chamados slots. “Conheci o cassino on-line por meio de um primo. Ele disse que estava ganhando dinheiro e perguntou se eu queria tentar. Coloquei R$ 20 e não ganhei nada. Foi assim que começou”, relatou o jovem.

Fabrício afirmou que quando perdia, pedia dinheiro emprestado aos amigos, mas, que depois de um tempo, começou a pedir dinheiro para o banco também. “Cheguei a pegar 2 mil reais para recuperar o que tinha perdido e não consegui”, lamentou. Ele contou que parou de apostar no começo do ano e que, atualmente, não sente mais vontade de jogar.

* Estagiário sob supervisão de Luana Patriolino

* Nome fictício a pedido do entrevistado

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Lucro do Mercado Livre dobra, com recorde de usuários do Mercado Pago

O Mercado Livre, gigante latino-americano de comércio eletrônico, superou as estimativas dos analistas no segundo trimestre ao registrar um número recorde de usuários no Mercado Pago, sua plataforma de meio de pagamentos. Os números sinalizam que a expansão geográfica da empresa e dos produtos está ganhando velocidade.

A receita líquida do Mercado Livre foi de US$ 5,1 bilhões no período de três meses encerrado em 30 de junho, em comparação com estimativa de US$ 4,7 bilhões, segundo analistas ouvidos pela Bloomberg. O lucro líquido dobrou em relação ao ano anterior, chegando a US$ 531 milhões, superando os US$ 415 milhões esperados pelos analistas de Wall Street.

O valor bruto das mercadorias (GMV na sigla em inglês), que reúne os dados de vendas on-line, aumentou 20% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 12,6 bilhões no período, com Brasil e México crescendo 36% e 30%, respectivamente, nesse período.

— Essas são taxas de uma startup, na verdade. Após 25 anos, estamos muito animados com esses números e continuamos ganhando participação de mercado nesses países — disse o diretor financeiro, Martin de los Santos, em uma entrevista antes da divulgação do resultado.

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Reforma Tributária deve incentivar adesão de motoristas de aplicativos ao Simples

Da receita líquida, US$ 3 bilhões corresponderam ao negócio de comércio eletrônico, enquanto US$ 2,1 bilhões vieram da plataforma de pagamentos Mercado Pago, segundo um comunicado da empresa.

Fundado há 25 anos, o Mercado Livre continuou a expandir para novas áreas, incluindo publicidade e seguros, enquanto consolida seus negócios principais de comércio eletrônico com entrega rápida em vastas regiões e soluções de pagamentos eletrônicos e financeiros em uma região onde o dinheiro ainda predomina em muitos lugares.

Valor de mercado de US$ 80 bi

As ações subiram mais de 35% no último ano e o valor de mercado da empresa, sediada em Montevidéu, no Uruguai, é de cerca de US$ 80 bilhões. Isso só fica atrás da Petrobras como a empresa de capital aberto mais valiosa da América Latina.

Na quinta-feira, as ações do Mercado Livre subiram até 12% nas negociações pós-mercado. A ação tem 25 recomendações de compra e três de manutenção, com um preço-alvo médio de 12 meses de US$ 2.002 por ação.

A Argentina, que foi um fator negativo no primeiro trimestre devido a uma desvalorização como parte das profundas reformas econômicas da administração do presidente Javier Milei, melhorou no período mais recente.

O volume total de pagamentos totalizou US$ 46 bilhões no trimestre e o Mercado Pago ultrapassou a marca de 50 milhões de usuários ativos pela primeira vez. No comércio, os usuários únicos quase atingiram 57 milhões.

1,6 milhão de cartões de crédito

À medida que a empresa busca expandir seus serviços financeiros do Brasil para o México, ela emitiu 1,6 milhão de novos cartões de crédito no trimestre entre os dois países. A carteira de crédito total é de pouco menos de US$ 5 bilhões. Os ativos sob gestão atingiram US$ 6,6 bilhões, impulsionados por contas de alto rendimento na Argentina e no Brasil.

A empresa, que planeia solicitar uma licença bancária no México, tem uma carteira de crédito que ultrapassou US$ 1,5 bilhão no trimestre e é “a maior fintech em termos de usuários ativos mensais” no país, de acordo com uma carta aos acionistas.

O seu negócio de publicidade nascente cresceu 51% em relação ao ano anterior, representando agora 2% do valor bruto de mercadorias (GMV).

Somando-se à desvalorização da Argentina, o real brasileiro e o peso mexicano também foram afetados neste ano, o que aumenta os desafios macroeconômicos de operar na região.

— A tendência secular de as pessoas se deslocarem para a internet e digitalizarem os seus pagamentos e a sua experiência bancária é provavelmente mais forte do que qualquer outra força que jogue contra nós a curto prazo. Na maior parte, estamos muito satisfeitos, apesar dos desafios que enfrentamos — afirmou o diretor financeiro.

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Dívida de R$ 2 bi e disputa com fundo, a crise que levou a Coteminas para a Recuperação Judicial

Com R$ 2 bilhões em dívidas, a Coteminas apresentou nesta semana à Justiça de Minas Gerais detalhes da situação financeira que levou o grupo ao processo de recuperação judicial. Os documentos mostram, além do endividamento, como escalou a disputa em torno de debêntures (títulos de dívida) que foram o estopim para a companhia pedir proteção na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte.

O gatilho para a crise foi o pedido de vencimento antecipado de R$ 300 milhões em títulos de dívida da gestora Farallon Capital, que comprometeria o principal braço da empresa, a Ammo, segundo processo ao qual O GLOBO teve acesso. O grupo têxtil do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, fundado pelo ex-vice-presidente José Alencar, vem há anos sofrendo para equilibrar endividamento alto e queda na geração de caixa.

Na ação, os advogados dizem que o negócio, dono das marcas MMartan, Casa Moysés, Santista Artex começou a se deteriorar há mais de uma década, com “desafios de liquidez” agravados na pandemia.

A operação com a Farallon Capital tinha como garantia a totalidade das ações de emissão da Ammo, principal braço do grupo. Os problemas começaram meses depois do acordo, e envolveram a troca do presidente da empresa e “ameaças constantes” de vencimento antecipado das debêntures no último ano, afirma a Coteminas à Justiça.

A companhia diz que a permanência das ações da Ammo é “absolutamente essencial” para a manutenção das atividades da empresa, justificativa aceita pela Justiça.

Com 57 anos de história, a Coteminas afirma que os problemas no negócio começaram em 2008, quando houve redução das exportações. A companhia passou a operar com 60% de ociosidade na capacidade instalada.

A situação se agravou na pandemia, período em que a empresa teve que consumir capital de giro enquanto mantinha níveis altos de alavancagem. O endividamento geral subiu de 63,04%, em 2019, para 119,10%, em 2023. A receita bruta despencou de R$ 3 bilhões, em 2021, para cerca de R$ 1 bilhão em 2023.

Segundo o processo, a empresa estava “sob a ameaça” de uma corrida de execuções e bloqueios judiciais, o que iria inviabilizar as atividades.

No ano passado, em meio à crise, a Coteminas chegou a fazer um acordo com a Shein, que envolveu investimento de R$ 750 milhões por parte da varejista chinesa.

Atraso de salários

Ao longo de 2023, os problemas financeiros chegaram na operação. A empresa enxugou o quadro de funcionários — um plano que envolvia corte de 34% do total de pessoas.

Funcionários de fábricas em Santa Catarina, Paraíba e Minas Gerais passaram a reclamar de atrasos salariais e de benefícios. Em Blumenau, 226 trabalhadores reclamam de atrasos salariais desde o início do ano.

Em 2023, 850 pessoas foram demitidas, segundo o Sindicato dos trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blumenau, Gaspar e Indaial (Sintrafite). Osmar Packer, advogado do sindicato, diz que há débitos trabalhistas de demitidos a pagar:

— As primeiras parcelas (de obrigações trabalhistas) foram pagas, mas depois eles deixaram de pagar.

No processo de recuperação judicial, a Coteminas diz que a proteção ajuda a preservar atividades e empregos. O GLOBO não conseguiu contato com a Coteminas para comentar as queixas do sindicato.

Com a reestruturação, os trabalhadores têm preferência na ordem de pagamento. Daqui para a frente, a Coteminas terá de apresentar a lista de credores.

Uma das dúvidas daqui para frente é o foro do processo. A empresa apresentou o pedido em Minas Gerais, mas há contestação, alegando que ele deveria correr em São Paulo. A decisão ficará a cargo do Superior Tribunal de Justiça.

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Dívida de R$ 2 bi e disputa com fundo, a crise que levou a Coteminas para a Recuperação Judicial

Com R$ 2 bilhões em dívidas, a Coteminas apresentou nesta semana à Justiça de Minas Gerais detalhes da situação financeira que levou o grupo ao processo de recuperação judicial. Os documentos mostram, além do endividamento, como escalou a disputa em torno de debêntures (títulos de dívida) que foram o estopim para a companhia pedir proteção na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte.

O gatilho para a crise foi o pedido de vencimento antecipado de R$ 300 milhões em títulos de dívida da gestora Farallon Capital, que comprometeria o principal braço da empresa, a Ammo, segundo processo ao qual O GLOBO teve acesso. O grupo têxtil do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, fundado pelo ex-vice-presidente José Alencar, vem há anos sofrendo para equilibrar endividamento alto e queda na geração de caixa.

Na ação, os advogados dizem que o negócio, dono das marcas MMartan, Casa Moysés, Santista Artex começou a se deteriorar há mais de uma década, com “desafios de liquidez” agravados na pandemia.

A operação com a Farallon Capital tinha como garantia a totalidade das ações de emissão da Ammo, principal braço do grupo. Os problemas começaram meses depois do acordo, e envolveram a troca do presidente da empresa e “ameaças constantes” de vencimento antecipado das debêntures no último ano, afirma a Coteminas à Justiça.

A companhia diz que a permanência das ações da Ammo é “absolutamente essencial” para a manutenção das atividades da empresa, justificativa aceita pela Justiça.

Com 57 anos de história, a Coteminas afirma que os problemas no negócio começaram em 2008, quando houve redução das exportações. A companhia passou a operar com 60% de ociosidade na capacidade instalada.

A situação se agravou na pandemia, período em que a empresa teve que consumir capital de giro enquanto mantinha níveis altos de alavancagem. O endividamento geral subiu de 63,04%, em 2019, para 119,10%, em 2023. A receita bruta despencou de R$ 3 bilhões, em 2021, para cerca de R$ 1 bilhão em 2023.

Segundo o processo, a empresa estava “sob a ameaça” de uma corrida de execuções e bloqueios judiciais, o que iria inviabilizar as atividades.

No ano passado, em meio à crise, a Coteminas chegou a fazer um acordo com a Shein, que envolveu investimento de R$ 750 milhões por parte da varejista chinesa.

Atraso de salários

Ao longo de 2023, os problemas financeiros chegaram na operação. A empresa enxugou o quadro de funcionários — um plano que envolvia corte de 34% do total de pessoas.

Funcionários de fábricas em Santa Catarina, Paraíba e Minas Gerais passaram a reclamar de atrasos salariais e de benefícios. Em Blumenau, 226 trabalhadores reclamam de atrasos salariais desde o início do ano.

Em 2023, 850 pessoas foram demitidas, segundo o Sindicato dos trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blumenau, Gaspar e Indaial (Sintrafite). Osmar Packer, advogado do sindicato, diz que há débitos trabalhistas de demitidos a pagar:

— As primeiras parcelas (de obrigações trabalhistas) foram pagas, mas depois eles deixaram de pagar.

No processo de recuperação judicial, a Coteminas diz que a proteção ajuda a preservar atividades e empregos. O GLOBO não conseguiu contato com a Coteminas para comentar as queixas do sindicato.

Com a reestruturação, os trabalhadores têm preferência na ordem de pagamento. Daqui para a frente, a Coteminas terá de apresentar a lista de credores.

Uma das dúvidas daqui para frente é o foro do processo. A empresa apresentou o pedido em Minas Gerais, mas há contestação, alegando que ele deveria correr em São Paulo. A decisão ficará a cargo do Superior Tribunal de Justiça.

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Gerson é condenado a pagar R$ 1,5 milhão a antigo empresário

A Câmara Nacional de Resolução de Litígio (CNRD) intimou o meio-campista Gerson, do Flamengo, a pagar R$ 1,5 milhão ao empresário Federico Pastorello. Eles romperam em 2020, altura em que Marcão Santos, pai e empresário do jogador, entrou com uma ação alegando que o contrato da empresa do agente com Gerson era nulo. Ele terá que pagar a dívida até o próximo dia 3, sob pena de suspensão. A informação foi dada primeiramente pelo portal ‘ge’.

Na alegação de Marcão, a empresa de Pastorello, a P&P Sport Management, não teria licença para atuar no Brasil. Com sede em Mônaco, ela acabou acionada junto à Câmara, que entretanto decidiu por punir o jogador com advertência e multa. A ação corria desde junho de 2020 e o órgão entendeu que não houve justa causa na rescisão do contrato.

Em meio à possível suspensão, Gerson já não está jogando devido a uma cirurgia no rim. Ele passou por uma pieloplastia para correção de estenose congênita, após o diagnóstico de hidronefrose, uma dilatação do rim. Ele retirou o cateter na última sexta-feira (22), mas ainda não tem prazo certo para voltar aos campos. É certo, no entanto, que não deva retornar até maio.

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De ovo de Páscoa a pacote de viagem: é possível comprar quase tudo com antecipação do saque-aniversário do FGTS

A antecipação do saque-aniversário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) se tornou uma febre no varejo. Anúncios em sites e lojas de rua apresentam a modalidade de empréstimo como uma forma de pagamento, em especial para o cliente negativado, ou seja, que não consegue outra linha de crédito no mercado.

O caso mais recente foi o das Lojas Americanas, que sugeriu a antecipação como possível pagamento para comprar ovos de páscoa, gerando reações engraçadas e memes nas redes sociais.

No entanto, a Americanas não é a única a exibir cartazes anunciando a antecipação como forma de financiar compras. Um anúncio na fachada de uma filial da varejista Tubarão, que funciona na modalidade atacarejo no Rio, diz, por exemplo: “Compre aqui conosco utilizando seu FGTS”.

Apesar de não mencionar diretamente o saque-aniversário, funcionários do estabelecimento explicam que o anúncio é relacionado à antecipação da modalidade. O cliente precisa aderir à linha de antecipação do saque-aniversário de um banco parceiro da loja.

Nas redes sociais, a loja também divulga a modalidade. O GLOBO tentou entrar em contato com o Tubarão Atacadão, mas não recebeu respostas até a data de publicação desta reportagem.

Esta linha de crédito antecipa o valor das parcelas de saque-aniversário do FGTS. Normalmente o trabalhador que aderiu ao saque-aniversário tem direito de sacar esses recursos anualmente, de forma parcial e no mês do seu aniversário.

Porém, ao aderir a esta modalidade, caso seja demitido, o trabalhador não recebe o saldo integral do seu Fundo – mas continua sendo compensado pela multa de 40% prevista para demissões sem justa causa.

Risco de gastar Fundo com ‘besteira’

Para Mario Avelino, presidente da ONG Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, a antecipação do saque-aniversário pode ser arriscado para o consumidor, porque pode agravar o endividamento, além de consumir um recurso que pode ser importante para o trabalhador em caso de demissão.

Segundo ele, grande parte dos consumidores que recorre a essa modalidade já está negativado e, por isso, deseja obter crédito desta forma.

— Na hora em que precisar do dinheiro de verdade, a pessoa terá gasto em ‘besteira’.

De pacote de viagens a eletrodomésticos

No site “Blog da Lu”, que funciona como um site de notícias do Magazine Luiza, a varejista se apresenta como um facilitador para a antecipação do saque. Na postagem, feita em novembro do ano passado, a empresa explica o funcionamento da linha de crédito e o texto diz: “minha sugestão é correr pro Magalu e pegar o dinheiro na mão”.

Procurado, o Magazine Luiza não respondeu os pedidos de comentários do GLOBO até o momento de publicação desta reportagem.

Empresas do setor de turismo também passaram a utilizar o artifício para aumentar a clientela. A CVC anunciou em novembro de 2023 que a antecipação do saque-aniversário do FGTS passaria a ser aceita como forma de pagamento de pacotes de viagens.

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FGTS: antecipação do saque-aniversário deve ser limitada; veja proposta em discussão no governo

O liberal, esse desconhecido

Em postagem no blog da empresa “Dicas de Viagens”, feita em 6 de novembro de 2023, a companhia anunciou a modalidade como uma forma de financiar viagens.

“Para conseguir utilizar essa modalidade, você precisa baixar o aplicativo do FGTS, optar pela opção Saque Aniversário e se associar ao Banco Digio (não é necessário criar uma conta no banco)”, diz o texto.

De acordo com a empresa, o objetivo de lançar esta forma de pagamento foi “democratizar o acesso dos brasileiros às viagens e ser mais uma alternativa de pagamento ao consumidor”.

Em nota, a CVC afirmou que a antecipação do saque-aniversário é uma alternativa para quem não tem acesso ou aprovação em outras formas de crédito.

“Uma das principais vantagens é que, utilizando essa modalidade de pagamento, o cliente não acumula parcelas mensais ou dívidas, já que o valor é descontado diretamente do saldo do Fundo de Garantia, uma vez ao ano, e com parcelas divididas em até 10 anos”, diz o texto.

Por outro lado, Avelino afirma que a antecipação não vale a pena e “serve para acumular dívidas para quem foi negativado”.

No site da Caixa Econômica Federal, o banco caracteriza o FGTS como uma oportunidade para o trabalhador de construir um patrimônio, sem mencionar o consumo.

“Com o FGTS, o trabalhador tem a oportunidade de formar um patrimônio, que pode ser sacado em momentos especiais, como o da aquisição da casa própria ou da aposentadoria e em situações de dificuldades, que podem ocorrer com a demissão sem justa causa ou em caso de algumas doenças graves”, diz a Caixa no site.

Sem Fundo

Criado no governo de Jair Bolsonaro, o saque-aniversário do FGTS está na mira da gestão Lula. O governo já expressou a intenção de limitar essa possibilidade de retirada do Fundo.

Mario Avelino, presidente da ONG Instituto Fundo Devido ao Trabalhador teme que o FGTS tenha uma perda significativa de recursos caso o saque-aniversário siga em uso. Para ele, a modalidade está esvaziando os cofres do FGTS e, assim, levando a uma possível queda nos investimentos feitos por meio do capital acumulado no fundo, tornando-o insustentável:

— Ou acaba o saque-aniversário, ou o saque-aniversário acaba com o Fundo.

De acordo com levantamento feito pelo Instituto Fundo Devido ao Trabalhador, com base em dados da Caixa Econômica Federal, a quantidade de saques feitos nesta modalidade aumentou 290,37% desde que foi criada, em abril de 2020.

Cerca de R$ 1,3 bilhão já foram retirados do Fundo só em janeiro de 2024, aponta a Caixa. No ano passado, mais de 29 milhões de saques-aniversários foram feitos, somando R$ 14,7 bilhões.

O que é o FGTS?

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é constituído pelos saldos de contas vinculadas, que são formadas por depósitos nas contas abertas da Caixa Econômica Federal, feitos pelos empregadores e correspondentes a 8% do salário de cada empregado.

O montante pertence aos funcionários que, em determinadas circunstâncias, podem resgatar parcial ou totalmente o valor.

Além de funcionar como uma proteção ao funcionário que é demitido sem justa causa e como facilitador de aquisição de moradia, o Fundo também é usado para obras de saneamento e infraestrutura.

O que é o saque-aniversário?

É uma opção disponível para o trabalhador. Anualmente, durante o mês de aniversário do titular da conta do FGTS, ele tem a possibilidade de retirar uma parte do seu saldo no Fundo. Se o trabalhador for demitido, apenas poderá sacar o montante correspondente à multa rescisória, não tendo direito ao saque do saldo total da conta.

Apesar disso, a qualquer momento o trabalhador que optar pelo saque-aniversário pode solicitar o retorno ao saque-rescisão. No entanto, a mudança só terá efeito a partir do primeiro dia do 25º mês após a data da solicitação de retorno.

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